segunda-feira, novembro 13, 2017

DESASTRE ANUNCIADO

Em uma página deste blog dedicada exclusivamente à CONCER, escrevi em 2013 o seguinte:

É absolutamente impossível que com 900 milhões de reais se consiga fazer a obra como anunciada neste vídeo. Para concordar comigo, compare esta obra com qualquer estádio da copa: o Mané Garrincha foi orçado em 1 bilhão e não tem um túnel de 4,6 km de extensão a ser escavado na rocha!!!!!

Na terça-feira, 7/11/17, por volta de 11 horas da manhã, se efetivou o desastre anunciado (imagem ao final desta postagem): o afundamento do terreno à margem da estrada onde residiam 55 famílias (hoje 153 desabrigados e 73 alunos sem aula).

Esta obra é uma salada indigesta de incompetência, corrupção, negligência, arrogância, leniência, desprezo, desfaçatez, roubalheira, imobilidade da justiça, dos Ministérios Públicos, da Prefeitura de Petrópolis, (ignoremos o governo-morto do Estado) e, principalmente, sobrepujança de poder da CONCER sobre o poder do Estado (ninguém consegue obrigá-la nem mesmo a cumprir o contrato que assinou).

Ou há outra explicação para que até hoje não tenha sido decretado o bloqueio diário das receitas de pedágio da concessionária. Para tal, nem mesmo é preciso alegar a interrupção das obras, basta, simplesmente, alegar o total descumprimento do contrato de concessão do direito de exploração, haja vista, que todo o trecho de subida e descida entre a baixada e a rodoviária da cidade, se encontra em péssimo estado, pois não há manutenção há muito.

Não sou eu quem o diz. Em 14/9/17, "o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação judicial pedindo o fim do contrato de concessão da Concer, (...) e a suspensão imediata da tarifa de pedágio", com base na "paralisação das obras da nova pista de subida da Serra (...)".

E esta é "a quarta ação movida pelo MPF contra a concessionária".

E a ANTT o que tem a dizer? Aí vai:

"De acordo com a Procuradora da República , Joana Barreto, a ANTT comunicou, de forma não oficial, que haverá um reajuste imediato de 4% na tarifa de pedágio e que a publicação em Diário Oficial pode ocorrer a qualquer momento." 

Ei! Captou! A CONCER está prestes a receber um prêmio de 4% a mais em suas receitas por nos prover com a pior estrada do Brasil administrada pelo regime de concessão.

Mas isso não é de hoje. 

"A concessão, iniciada em 1995, se encerra em 2021. De acordo com o MPF, em mais de 21 anos de concessão, a Concer praticamente não cumpriu com as obrigações previstas no Plano de Exploração da Rodovia."

Mas a CONCER quer mais 10 anos de concessão e nem mesmo é uma pretensão que partiu dela e sim do governo Federal (nos finados de Dilma ou nos intermédios de Temer?) que deseja "manter essas empresas à frente das concessões, por meio de termos aditivos nos quais as empresas assumam compromissos de entregar novas obras".

ATENÇÃO: a frase acima não foi extraída de uma obra de ficção ou de non-sense!!!

Caso a CONCER obtenha uma extensão de prazo de 10 anos (sim, isto ainda é possível, os dirigentes da empresa não perderam a esperança) ela deverá arcar, "com base em relatório da Firjan", com um prejuízo já calculado "de pelo menos R$ 1,5 bilhão devido ao impacto logístico e dos possíveis acidentes, caso as melhorias na rodovia" vierem a ser "concluídas apenas em 2031".

Tem mais. Como sempre, como prática de obras públicas, como técnica para obtenção de superfaturamento e distribuição de propinas, o errado vem desde o nascedouro.

"Para a Justiça, o início das obras foi autorizado com base em um projeto básico de engenharia, o que é proibido por lei. A construção começou sem dotação orçamentária e foi alvo de aditivos que resultaram em prejuízos aos cofres públicos."

Ouvi dizer, não consegui achar nenhuma informação confiável - mas considero absolutamente plausível, lógico, obrigatório -, que a CONCER, não tendo recebido a cota parte que cabia ao governo Federal, tenha suspendido as obras respaldada numa interposição judicial acusando o governo Federal de não cumprimento de sua parte no acordo. Razoável.

Ouvi dizer, também, que a CONCER agora está absolutamente a cavaleiro, e acusando o governo pelo desastre. É coerente.

Mas a CONCER defende valores humanitários, de respeito aos direitos do cidadão, e não foge às suas responsabilidades, nem àquelas que atribui a outrem.

"A Concer, em nota enviada na noite desta sexta, informou que 52 famílias da Comunidade do Contorno afetadas pelo incidente já receberam o auxílio aluguel no valor de R$ 1 mil, além de cestas básicas e kits de higiene pessoal." Batam palmas e um VIVA! a tanta generosidade!!! 

Último ingrediente desta indigesta salada, capto a mensagem da CONCER através de seus advogados que, ainda não admitindo que a causa é desmoronamento causado pela não concretagem do túnel, está apurando as causas, mas que, de qualquer forma, não se responsabiliza pelo incidente.

Dito isto, vamos às projeções.

Um grande jogo de empurra já está se estabelecendo. Além do embate CONCER x GOVERNO FEDERAL e do embate MPF x (CONCER e GOVERNO FEDERAL), vamos assistir a um outro: o embate entre os que sempre foram contra o túnel e as entidades ecológicas e de preservação da nossa fauna e flora, que foram vitoriosos sendo a favor do túnel e contra a duplicação simples da estrada a, digamos, céu aberto (apropriado dizer que a caça virou caçador).

No nível prático, rasteiro, por quem e quando será providenciada uma solução através de um desvio de poucas centenas de metros para restabelecer o tráfego na pista de descida, eliminando o trajeto por dentro dos bairros Duarte da Silveira e Bingen, que, além de aumentar o tempo de trajeto entre 20 minutos e 1 hora, vai causar estragos nas vias da cidade? A CONCER não será porque se diz inocente. O governo Federal não será porque está com os gastos congelados. A Prefeitura de Petrópolis, à míngua, como todas as prefeituras, também não será.

Uma coisa já é certeza: a cidade de Petrópolis já está sendo prejudicada e, principalmente, a região de Itaipava e adjacências onde já é a grande perdedora e pagadora terceirizada desta lambança arquitetada, orquestrada, executada por psicopatas.

Quem assumirá a estrada, e em que condições, daqui a 3 anos? 

Qual sua aposta num prazo para termos esta estrada concluída?

Não dou meu palpite porque não estarei mais por aqui quando isto acontecer. Infelizmente.

FONTES:




quinta-feira, novembro 02, 2017

NASCE UMA NOVA HUMANIDADE

Homo deus, uma breve história do amanhã, de Yuval Noah Harari, israelense, ph.D em história por Oxford, professor na Universidade Hebraica de Jerusalém, ateu, é uma obra que, apesar de suas 400 páginas, se lê quase que compulsivamente.

O texto, instigante, premonitório, apocalíptico, controverso, tem a fluidez de quem escreve para ser lido por todos e semeado de exemplos, casos e dados.

Nos dias de  hoje, creio que todos nós, os mais velhos, compartilhamos um sentimento de perplexidade quando nos deparamos com as prioridades e valores dos jovens à nossa volta e nos indagamos "para onde esse modelo levará esta geração e as próximas"?

Moralidade, Deus, privacidade, identidade, sociedade, religião, homossexualismo, educação, capitalismo, comunismo, eleições, democracia, internet, redes sociais, isto e mais, são temas tratados por Yuval sem predizer o futuro, apenas sugerindo, questionando, deduzindo possíveis destinos a partir da avaliação de onde estamos.

Neste link "Homo deus", você pode baixar o extrato que fiz da minha leitura. Como tal, é uma coletânea de trechos pinçados por um critério absolutamente pessoal, sem compromisso com coerência ou ligação entre os parágrafos. Para uma construção mais consistente do pensamento sobre as propostas apresentadas, a leitura da íntegra creio ser essencial.

Coragem! Vai mexer com seus neurônios!


Este vídeo da palestra de Yuval no TED, é uma síntese-síntese do livro e lhe dá uma ideia geral dos principais aspectos que ele aborda na obra.

E aqui o experimento de Frans de Waal com duas macacas-capuchinhos, citado por Yuval.

sábado, outubro 21, 2017

VIDA EM FRAGMENTOS, HÁ MAIS DE VINTE ANOS

"Vida em Fragmentos - Sobre a Ética Pós-Moderna", de Zygmunt Bauman, é um ensaio escrito em 1995(*) sobre as realidades da Europa naquele momento histórico a partir do ponto de vista de um pensador europeu. 

Apesar de passados 27 anos desde a publicação da primeira edição, é desconcertante, atordoante, a atualidade de suas análises, tanto em relação ao mundo como quanto ao que se pode aplicar para o entendimento do que vivemos no Brasil.

A seguir, reproduzo algumas passagens para dar uma ideia do que estou dizendo. Muito mais há além disso, especialmente sobre moralidade na pós-modernidade. O extrato completo você acessa aqui.

(*) Só foi publicado no Brasil em 2011, pela Zahar!!!

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Sobrevivência é o nome do jogo, e a sobrevivência em questão é, em regra, sobreviver até o próximo por do sol. As coisas são tomadas à medida que se apresentam, esquecidas à medida que se vão.

Determinação para viver um dia de cada vez, descrever a vida cotidiana como uma sucessão de pequenas emergências, passam a ser os princípios orientadores de toda conduta racional.

[Segundo George Steiner, no mundo atual, a mensagem a ser transmitida é construída para ter] impacto máximo e obsolescência instantânea, uma vez que o espaço por ela ocupado precisa ser esvaziado tão logo tenha sido preenchido, para abrir espaço a novas mensagens que já forçam a entrada.

Ruas hoje arrumadas se tornam perigosas amanhã, as fábricas desaparecem com os postos de trabalho, habilidades não encontram mais compradores, o conhecimento se transforma em ignorância, a experiência profissional se converte em deficiência, redes de relações seguras desmoronam e enlameiam o espaço com lixo pútrido.

O cotidiano deve ser cada vez mais sangrento, chocante e, além do mais, "criativo", a fim de despertar algum sentimento que seja, e verdadeiramente chamar a atenção.

Um sintoma amplamente divulgado do retorno da violência é a crescente dificuldade em manter separada orientação paterna firme e abuso infantil; flerte e assedio, investida sexual e atentado violento ao pudor.

"A tecnologia se desenvolve porque se desenvolve"; cada vez mais novos meios são criados seguindo apenas seu próprio ímpeto (o ímpeto dos laboratórios de pesquisa e dos lucros do marketing).

É banal dizer que se pode matar hoje sem nunca olhar a vitima no rosto. Depois que afundar uma faca num corpo, estrangular ou atirar a curta distância foram substituídos por pontos que se deslocam numa tela de computador - como se faz nos divertidos consoles de viedogame ou na tela de um Nintendo portátil -, o assassino  não precisa mais ser impiedoso. Ele não tem a oportunidade de sentir piedade. Este, entretanto, é o aspecto mais óbvio e trivial, ainda que o mais dramático, de "uma ação à distância".

Os vira-latas de ontem eram os não produtores; os de hoje, são os não consumidores.

O divórcio entre a autarquia política e autarquia econômica não poderia ser mais completo, e parece irreversível.

A disputa pela soberania torna-se cada vez mais a competição por um melhor negócio na distribuição mundial de capital. Isso se aplica aos dois tipos de clamor por soberania ora observados. De um lado, os provenientes de localidades prósperas, como a Lombardia (Itália), a Catalunha (Espanha) (...)

[Uma explicação para o que enfrentamos nos relacionamentos com as empresas nos dias atuais.] As organizações se defendem [de nós] através do fenômeno da "flutuação de responsabilidade". Considerando que o membro da organização siga suas regras fielmente e faça o que seus superiores lhe disseram para fazer, não é ele quem assume a responsabilidade por qualquer efeito que sua ação possa produzir sobre seus objetivos. Quem assume, então? A questão é atordoante, uma vez que todos os outros membros da organização também seguem procedimentos e ordens. Parece, diz Hannah Arendt, que a organização é governada por ninguém - ou seja, é movida apenas pela lógica impessoal de princípios autopropulsores.

Nas palavras de Mulgan, "o egoísmo e a ganância, além da corrupção no governo e nas empresas, passaram a ser as marcas distintivas da era  neoconservadora.

[E quanto à sua história de fidelidade com as empresas, especialmente com bancos, não valer mais de nada] cada transação comercial, para ser verdadeiramente racional, deve começar do zero, esquecendo méritos passados e dívidas de gratidão.

Num mundo em mudança, à deriva, que possível beneficio pode um indivíduo obter da união de forças com outros também em destroços?

Quem precisa de política quando os interesses e significados seguem direções apartadas? O interesse pela política sempre teve seus altos e baixos, mas agora parece que conhecemos uma cepa totalmente nova do vírus da apatia eleitoral.

Mais importante e ainda menos provável é a perspectiva de um esforço legislativo que siga imperativos éticos de longo prazo, em vez de ser empurrado como um plâncton por cálculos e ganhos eleitorais imediatos e de curta duração.

As pessoas podem influenciar os assuntos que lhes digam respeito de duas maneiras: por meio da voz ou por meio da saída. A diferença entre voz e saída é a diferença entre compromisso e desprendimento, responsabilidade e indiferença, ação política e apatia.

O perigo é de a sede humana de controle e supremacia degenerar em crueldade e opressão desumanas.








quarta-feira, outubro 18, 2017

SERES EM PEDAÇOS.

"Consequências da fragmentação: precipita a extinção e o declínio da população; a fragmentação causa mudanças no balanço competitivo entre as espécies, exacerbando as ameaças à sua diversidade." 
Coletado na web, sem autoria.

Estamos nos tornando seres despedaçados pós fragmentação das coisas no mundo da modernidade líquida. Nem todos já se sentem assim. Uns percebem que não são mais sólidos em suas certezas como até em um passado recente e buscam âncoras de resistência; outros já se vêem em pedaços que não se juntam e se perguntam "até quando?". Outros, simplesmente negam tal possibilidade de desmanche existencial.

Mas a fragmentação é ubíqua. Onipresente e onipotente. Só não é onisciente pois a informação é superficial, incompleta e desconexa. "La pièce de résistance" é negar o contraditório. Só queremos ouvir o que nos conforta em nossas angústias. O trabalho é temporário por tempo indeterminado. O amor é fluido como as águas do rio que rumam a outros leitos. Tudo o que era sólido derreteu sob o calor das tecnologias disruptivas. Onde foram parar nossas certezas? Não sabemos mais e não temos tempo para lidar com nossos filhos. Educá-los foi transferido para a exclusividade de escolas e professores presos aos métodos do século XIX porque não dão conta de entender seus papéis no século XXI. Os eventos passam como ventos em nossas vidas, rápidos, fortes e caóticos, enquanto nossa capacidade de adaptação/adequação/assimilação é desesperadoramente lenta. Nossas escolhas são fluídas, frágeis, pois nem mesmo temos tempo e discernimento para enxergar e avaliar as opções?

A verdade não tem qualquer relevância. Vale a versão midiática. A que atende aos interesses super-imediatos. O fato é ignorado, apenas a interpretação oficial deve ser considerada. E vale enquanto um novo fato, um novo interesse sem mesmo ter conexão com o anterior, não há continuidade, apenas sobreposição. A enxurrada de tuítes, zaps, posts, curtidas e notícias do último minuto, anexadas a charges, fotos ou vídeos, se fundem numa massa grotesca, confusa e disforme, transferida para a lixeira no tempo de uma viagem de metrô, de uma espera na ante-sala do dentista, porque o espaço de armazenamento se esgotou.

Estamos em pedaços. Não somos mais inteiros. Como maridos, devemos ser mães. Como mães, devemos ser provedoras. Como profissionais nos dizem que temos que ser multifuncionais. Esqueça a competência. A autoridade do conhecimento não é mais necessária pois o Google é nosso Papai-Sabe-Tudo deste nosso século. Tudo o que querem de nossos jovens é a energia de fazer que neles parece infinita. O trabalho é pontual. Somos parte de uma pequena parte. O resultado final quase nunca nos é dado saber. Pois não importa a qualidade do resultado. $$ó o re$ultado.   


A privacidade protegida nas constituições das nações mundo afora, é um conceito perdido em discursos vazios. Somos bisbilhotados em nossos comportamentos cotidianos mais comezinhos. A nuvem agora armazena tudo sobre mim. Tem as fotos que tirei com meu celular; tem imagens minhas captadas e gravadas por câmeras espalhadas por ruas, salas de espera, halls de bancos; tem toda a história de meus relacionamentos contada pelas milhares e milhares de mensagens trocadas pelos tantos aplicativos que tenho instalado; tem o rastreamento de todos os links que visitei em todas as minhas navegações, desde simples consultas na wikipédia até meus sites pornográficos preferidos, passando, obviamente, por todos os meus desejos de consumo satisfeitos ou apenas manifestos. Não existo mais como ser-humano. Meu ser, eu como indivíduo, sou construído a partir de uma pergunta (query) construída com parâmetros para atender um objetivo específico, aplicada sobre um banco de dados ao qual não tenho acesso e muito menos controle sobre o conteúdo. Neste contexto, deixei de ser uno, me tornaram um infinito de seres virtuais.

Nossa fragmentação nos deixou com um vazio. Nosso sentimento de pertencimento, a cola de nossa solidez perdida, estragou, perdeu a validade e a eficácia. Já vivemos o vazio pós sermos empurrados no precipício do mundo globalizado. Estranhamos o outro, nos defendemos do outro, agredimos o outro, porque  não temos nada que nos sobreponha como valor comum. Estamos tão fragmentados que não nos reconhecemos mais nem mesmo em nossos núcleos familiares. A intolerância se instalou nas casas onde cada um é solitário com seu computador ou smartphone pessoal. Nossa comunicação deixou até mesmo de ser restrita a 140 caracteres. Agora ela se resume a 👍,👎,😉 ou 😖.

Não nos vemos mais como uma só humanidade. Só a minha humanidade é real. A minha opinião é a única e universal verdade. Só a minha existência importa. A solidariedade deixa de ser uma atitude moral para virar um conceito utópico, distante, inalcançável, irreal. Desnecessário. A moral deixa de ser um impositivo para o sentimento de felicidade e para a qualidade das relações humanas.

Se toda tendência provoca uma tendência contrária, quanto ainda falta para que esta ganhe tal vulto que nos confronte e nos induza a refletir, questionar, reavaliar e optar? O que haverá num futuro momento de equilíbrio de tendências contrárias?  Abandonamos a era da modernidade sólida substituindo-a por uma pós-modernidade líquida que nos receita Rivotril ou Lexotan seguido de sessões em um divã no consultório do psiquiatra (não mais que Viagras para levantar o ânimo e provocar um gozo em nossa existência, agora, virtualmente vã). 

Se vamos reagir a esse destino, que destino teremos por opção? Um futuro de sólidas convicções flexíveis?





quarta-feira, setembro 27, 2017

EU ESCREVI ISSO EM 2005???

Escrevi sim. Estou entre me achar "o premonitor", "o Nostradamus" tupiniquim, ou desiludido quanto a possibilidade de um dia as coisas mudarem para melhor, mesmo que minimamente. 

O texto foi publicado na seção Cartas do Leitor, no jornal Propaganda e Marketing, em Agosto de 2005 em reação a algumas opiniões sobre corrupção (era a época do Mensalão). Republico porque poderia ter escrito hoje o mesmo, sem qualquer retoque.



BOTANDO A COLHER

Ora, bolas! Eu também quero meus centímetros-colunas de espaço. Vejo todo mundo dando sugestão de como acabar com a corrupção, como deve ser uma nova legislação eleitoral, como diminuir os custos das campanhas políticas e como evitar desvios de recursos. Quero aproveitar este momento em que a sociedade parece estar querendo ouvir o que os publicitários, protagonistas cada vez mais centrais, têm a dizer.

Pois eu digo que não existe lei que acabe com a corrupção, não importa tipo, local e tamanho. Sobreviver é uma tarefa natural do ser humano e, características pessoais à parte, a corrupção, ativa ou passiva, é uma poderosa arma na selva da competição meritocrática universal.

Não somos, como povo, diferente de qualquer outro. A diferença é que, por exemplo, lá naquele grande país do norte, o sujeito pego na falcatrua corruptiva não tem coragem de voltar para casa e e enfrentar os filhos.

Aqui, ele vai à CPI, sob os holofotes e câmeras da TV Senado, espiar seus pecados e... chorar. Ele sabe que o tempo passa e a justiça brasileira cuida de cozinhar os processos em fogo baixo até que tudo tenha se evaporado no tempo. A corrupção só tem fim com o fim da humanidade e, se tal é, há que nos conscientizarmos que porta de galinheiro aberta é convite para raposa banquetear. Isto quer dizer que precisamos investir em constrangimento (polícia) e punição (justiça), as únicas ferramentas eficazes à disposição da sociedade.

Em crime de colarinho branco, polícia significa Receita Federal combinada com Polícia Federal. E o Brasil tem hoje um dos melhores sistemas de controle de origem e destino de recursos financeiros do mundo. Falta usá-los para dar o recado.

Em minha opinião, portanto, qualquer outra discussão só tem como consequência desviar a atenção e manter o famoso status quo.

E, por favor, querer que acreditemos em uma reforma eleitoral que nos fará votar em uma "lista" de fantasmas (*) é nos imaginar completos imbecis.

(*) Mas eles continuam tentando.