sábado, janeiro 13, 2018

A DISRUPTIVA DIGITRÔNICA

Deste início e até o fim, uso o termo disruptivo para sintetizar um processo novo que não resulta de um aprimoramento dos até então existentes, mas que é tão radicalmente novo que só novos e ousados agentes são capazes de implementá-los resultando em novos modelos  de processos drasticamente diversos do então em vigor.
E com digitrônico, sintetizo a união da tecnologia digital-binária que tem origem na primeira metade do século XX, somada às tecnologias de hardware de comunicação, via fibras óticas e satélites dos anos 60 e 70, que viabilizaram a comunicação mundial instantânea e, por consequência, o desenvolvimento de equipamentos eletrônicos e aplicativos sofisticados mas simplificados para uso do cidadão comum. Tudo isto tendo como camada invisível ao usuário, potentes linguagens de programação, até sofisticadíssimos bancos de dados distribuídos na nuvem e que detém recursos de armazenamento e recuperação de dados que nos surpreendem a cada clique.

Tenho ouvido analistas respeitados comparando a revolução tecnológica que vivemos, a digitrônica, à revolução industrial iniciada na segunda metade do século XVIII. Alegam que as principais questões são as mesmas: impacto no modo de produção, nos padrões de consumo e numa tensão sobre uma possível redução no nível de emprego que nunca ocorreu. A diferença que aponto, reside no fato de a revolução industrial ter sido consequência da evolução de escala buscada por aqueles que produziam produtos manufaturados. A energia produzida pelo vapor impulsionando o movimento, não trouxe um novo mercado destruindo um outro. Instalações produtoras não deixaram de existir. Elas adaptaram seus processos produtivos adotando a nova forma de gerar energia mecânica, isto quando muitas delas foram descobridoras de novas tecnologias. A consequência foi produzir mais no mesmo espaço de tempo e mais barato. Se alguém foi afetado, foi aquele industrial que não adotou, ou adotou tardiamente, o novo, pois o objetivo central era e ainda é "como eu produzo o mesmo mais e melhor que meu concorrente". 

A revolução digitrônica é de outra natureza. Ela é disruptiva porque rompe com o existente apresentando algo que não é fruto da evolução competitiva como na revolução industrial. É disruptiva pois ao se instalar interrompe (ou reduz) o tamanho da participação de uma solução existente, porque introduz uma solução alternativa tecnologicamente nova. Ela é disruptiva porque não nasce de dentro de quem está ganhando (vide grandes marcas mundiais que viraram lixo, ou quase, num piscar de anos). Ela é criada, alimentada, incrementada, por gente de fora, os chamados "outsiders". 

Timothy John Berners-Lee, hoje detentor do título honorífico de Sir, aos 34 anos, trabalhando no CERN (maior laboratório de pesquisas nucleares) na Suiça, propôs um projeto de hipertexto (HTML) para "facilitar a partilha e atualização de informações entre os pesquisadores", só isso. Como quase tudo na vida, um projeto egoísta para resolver problemas do próprio umbigo. Poucos anos mais tarde, aplicando princípios de sua linguagem à tecnologia de comunicação via internet, permitiu que em 25 de dezembro de 1990, Tim e seus companheiros de projeto fizessem a primeira interação entre um "cliente" HTTP e um servidor. Ele não sabia a revolução disruptiva que estava iniciando. 

Martin Cooper, um engenheiro da Motorola, soube que os policiais de Chicago reclamavam pela perda de tempo em ter que se deslocar até a viatura para poder usar o rádio e se comunicar com outros policiais ou com a central de polícia. Inspirado no seriado Jornada nas Estrelas, Martin rapidamente entregou uma solução em duas unidades: uma que ficava no veículo e outra que ficava com o policial. Mas foi só em 3 de abril de 1973 que a Motorola apresentou o primeiro celular como alternativa de comunicação interpessoal, e só em 1983 entrou em funcionamento nos Estados Unidos a primeira rede de telefonia celular. Apenas uma revolução na comunicação, mas que permitiu a disrupção que viria 30 anos mais tarde.


Nem Tim, nem Martin, podiam imaginar que no futuro existiria uma AMAZON e um GOOGLE, nem o que 5 estudantes de Harvard (um deles brasileiro) iriam criar em 2004, porque desejavam resolver um problema: algo que permitisse aos alunos (a eles principalmente) escolher entre duas garotas qual seria a que convidariam para um encontro. O resto é história, como costumamos dizer. Mark Zuckerberg assumiu o controle do FACEBOOK, despachou seus parceiros para longe, se tornou um dos caras mais ricos do mundo, e fez seu negócio egoísta gerar uma fortuna colocando pequenos anúncios ao lado de cada uma das bilhões de "curtidas" que damos todos os dias.

Até aqui só conceituei a disrupção digitrônica e apontei alguns fatos que a originaram. É óbvio que existiram outros, muitos outros, protagonizados pela determinação de Bill Gates em transformar o computador em objeto pessoal, por Steve Jobs com sua doentia mania de perfeição e design, por Marc Andreessen ao fazer o primeiro navegador, pelo mouse criado no laboratório PARC da Xerox, pelo SQL da IBM, pela estrutura de banco de dados relacional de Larry Ellison, pelos chips cada vez mais velozes da INTEL etc. Mas estes 3 que escolhi estão na base da digitrônica, pois suas ideias tornadas em produtos de massa são as que hoje fazem a disrupção.

Tim Berners-Lee rompeu com a forma de produzir e distribuir informação por texto e imagem, eliminando a necessidade de todos os processos para transportá-las de um ponto ao outro do globo terrestre. Mais que isso, tornou tal traslado, simplesmente imediato. Isto criou dois problemas: volume de informações a armazenar e necessidade de algoritmos de recuperação. Inicialmente a armazenagem era um problema do usuário, mas a pesquisa e recuperação era um problema que exigia soluções tecnológicas sofisticadas.

Então apareceu o Google com seu modelo de atrair uma montanha de capital para aplicar no desenvolvimento de um buscador "killer", matador, como dizem os americanos, que realmente primeiro matou o AltaVista (o primeiro buscador) e depois (2013), o Yahoo! Hoje, com seus algorítimos de pesquisa que eu e, tenho certeza, todo mundo pensa que só pode ser coisa do "Sobrenatural de Almeida", pois é onisciente, a tudo me respondendo em microssegundos. A disrupção do Google alcança praticamente todas as atividades humanas. Ao "saber de tudo", responder a tudo, elimina a intervenção ou participação de profissionais de várias áreas do conhecimento. Já vou ao escritório do advogado, sabendo que leis devem ser consideradas no meu litígio e quais são minhas chances, e, portanto, só quero seus serviços na montagem da estratégia. Vou ao médico levando meu diagnóstico sobre meu imaginado mal. Se leio ou ouço qualquer notícia ou simples informação sobre a qual tenho cá minhas dúvidas quanto à veracidade, apenas digito na barra de pesquisa algumas palavras e de imediato posso chegar à minha conclusão extraindo-a das tantas fontes que me são oferecidas, que aprofundam, resolvem ou certificam minhas dúvidas.

Enquanto o Google é onisciente, o FACEBOOK se tornou onipresente na humanidade, mesmo que ainda nem todos os humanos tenham sua página no aplicativo. Há muitos que crêem que não há mais vida sem FB. Exageros fora, as redes sociais são a nova ágora, a praça de Atenas onde os gregos debatiam seus assuntos mais relevantes, especialmente política. Publicar é preciso, diria Fernando Pessoa se vivo fosse. Insultar deixou de ser um comportamento grosseiro para se transformar apenas em... uma manifestação xenófoba, racista, homofóbica e além. Opinamos sobre tudo o que não temos a menor competência para opinar. Nossa credulidade nunca esteve tão à flor da pele.Pelo Whatsapp ou FB, redistribuímos prováveis mentiras como certeiras verdades. Protegidos pelo anonimato ou por perfis falsos, ofendemos uns aos outros e nos tornamos militantes radicais de causas patrocinadas por interesses escusos que não somos capazes de perceber a tempo. 

E o smartphone, o celular-computador, ou computador-celular, completa a trilogia de qualidades do ser supremo de nele tudo poder ser feito, o seu caráter onipotente. Com um celular podemos tudo.  A possibilidade de ser usado como telefone, é um detalhe menor. Com milhares de aplicativos que posso baixar gratuitamente ou por 1,99 (não importa a moeda), posso ter e ler um livro da biblioteca mundial; posso saber a que altitude estou; a previsão do tempo; cronometrar meu trajeto; aprender sobre as estrelas, planetas e constelações; chego aos lugares que nunca fui guiado pelo Waze; me oriento pela bússola; passo meu tempo com meus jogos preferidos; gravo minhas conversas, fotografo e filmo tudo o que me interessa; compro pelas "stores" disponíveis; reservo meu "ticket" para o teatro e minha hospedagem em meu próximo destino (claro, compro a passagem); revejo programas da TV; voto nas pesquisas mais estapafúrdias; "me sinto" o repórter enviando um vídeo para a rádio ou estação de TV denunciando um assalto ou simplesmente informando sobre o trânsito. Ah! Faço, ou tento, restabelecer minha conexão de banda larga clicando no aplicativo da operadora!!! Não posso nem mais "pular a cerca", minha mulher sabe sempre as coordenadas de onde estou!!!

Digitrônica: onipresença, onipotência e onisciência. Está feita a disrupção. Agora precisamos estimar, imaginar, como a sociedade, como o mundo, como a vida, irão funcionar. Que novas regras, padrões, normas, passam a vigorar. Que implicações existirão sobre a ética, sobre a moralidade, sobre a importância da virtude nas ações do homem como desejava Aristóteles, sobre o papel da vontade de potência como agente de mudanças na proposta de Nietzsche, e como se conduzirá o debate das ideias contrárias? Como desejada por Platão em sua dialética (um debate comprometido com a busca da verdade) ou um embate sangrento entre verdades opostas até que uma subjugue e escravize a outra?

Por hoje, é só. Quando voltar, vou me arriscar a explorar o que a disrupção digitrônica já mudou ou pode vir a mudar no cotidiano da vida, nas interrelações, na política, no país e no mundo.

segunda-feira, dezembro 18, 2017

REFORMA DA PREVIDÊNCIA - DEBATE ERRADO

O debate em torno da reforma da previdência está muitíssimo equivocado. Não descarto o óbvio, o fato de que temos que instituir uma idade mínima para a aposentadoria compatível com o aumento da expectativa de vida. Esta mudança é inadiável pois atrasada em mais de duas décadas. Não há mais como sustentar indivíduos aposentando aos 55 anos com uma perspectiva de vida de mais 30 anos! 

O absurdo é a diferença entre o perfil de remuneração de trabalhadores do setor público e do setor privado. Ressalto que não tenho nada contra servidores públicos. São trabalhadores como todos nós. Eu só não concordo com a visão de seres especiais que assumem por estarem nesta condição profissional. Podem reparar que eles valorizam o fato de que são "servidores do público", "servidores do cidadão", se vêem como cumprindo uma "missão divina", o que os coloca num patamar acima de nós mortais (lembrete: é considerado crime qualquer desacato ou ofensa a um servidor público!). Esquecem que "servir" é inerente a uma infinidade de atividades do setor privado: motoristas do serviço de transporte público, taxistas, enfermeiras, médicos, advogados, garçons, frentistas, vendedores de todos os tipos de comércio, etc. Mas "eles" são "superiores" e, portanto, merecem receber muito mais do que aqueles que fazem parte da massa dos ignóbeis! Esta visão autocentrada não é culpa do contingente dos servidores. Ela vem como consequência da visão dos políticos de que se os servidores não forem adequadamente valorizados não terão estímulo para "servirem" com competência. Ora, mas servir só pode ter um grau de qualidade: servir bem. Servir mal, não é servir, é apenas um contrassenso. 

Vamos a alguns dados. Em termos médios gerais, o servidor público ganha, em média, cerca de 70% mais que o funcionário do setor privado! Alguém tem uma justificativa razoável para isso? Ok, considere que seja só 50%. Ou 25%. A minha questão é: em qualquer equação econômica, de qualquer viés de doutrina, aqui ou na Conchinchina, o risco tem um prêmio pelo sucesso, enquanto a ausência de risco (p.ex. a poupança), tem um deságio no ganho pela garantia/segurança de recebimento. Não fosse assim, não haveria quem se dispusesse a correr riscos pois não haveria prêmio. Muito bem. O sistema brasileiro (não conheço o de outros países) oferece aos seus servidores públicos privilégios que nenhum trabalhador do setor privado tem direito. Exemplos? Estabilidade (impossibilidade de ser demitido); bônus de desempenho para servidor aposentado!; Auxílio pré-escola e alimentação até para servidores que ganham R$ 30 mil; licença prêmio: a cada 5 anos o servidor tem direito a 3 meses de férias remuneradas; licença não remunerada, também por 3 meses, para tratar de assuntos particulares: não recebe, mas tem seu lugar garantido ao voltar; e mais, muito mais. Ora, tal nível de estabilidade deveria, logicamente, levar a salários mais baixos no serviço público quando comparado ao mesmo nível funcional no setor privado. Isto seria o lógico!

O resultado desse sistema é que enquanto o benefício médio do INSS é de R$ 1.862,00 (máximo em torno de R$ 5 mil), o aposentado do congresso, como exemplo, ganha, em média R$ 28.527,00. O sistema está mudando, mas ainda pode-se considerar que a maioria dos servidores se aposenta passando a receber... o salário de quando na ativa!

É estupidamente flagrante que nenhuma solução para o país poderá ignorar esse quadro, pois as consequências sobre a previdência são diretas e monumentais em termos de recursos.

Mas... os servidores públicos brasileiros acham que ganham muito pouco e vêm sendo muito prejudicados. Por conta disso pressionaram Temer a lhes conceder reajustes que nos imporão (nós, que pagamos a conta) R$ 64 bilhões entre 2016 e 2019. E além, com certeza.

Mas querem os nossos políticos - borrados de medo do que pode advir do monstrengo da máquina pública, se contrariada, criada por seus antecessores -  que os idiotas brasileiros que burramente não se aboletaram no serviço público aceitem as propostas apresentadas nesta estrunchada reforma da previdência.

Não vejo luz no fim deste túnel!




segunda-feira, novembro 13, 2017

DESASTRE ANUNCIADO

Em uma página deste blog dedicada exclusivamente à CONCER, escrevi em 2013 o seguinte:

É absolutamente impossível que com 900 milhões de reais se consiga fazer a obra como anunciada neste vídeo. Para concordar comigo, compare esta obra com qualquer estádio da copa: o Mané Garrincha foi orçado em 1 bilhão e não tem um túnel de 4,6 km de extensão a ser escavado na rocha!!!!!

Na terça-feira, 7/11/17, por volta de 11 horas da manhã, se efetivou o desastre anunciado (imagem ao final desta postagem): o afundamento do terreno à margem da estrada onde residiam 55 famílias (hoje 153 desabrigados e 73 alunos sem aula).

Esta obra é uma salada indigesta de incompetência, corrupção, negligência, arrogância, leniência, desprezo, desfaçatez, roubalheira, imobilidade da justiça, dos Ministérios Públicos, da Prefeitura de Petrópolis, (ignoremos o governo-morto do Estado) e, principalmente, sobrepujança de poder da CONCER sobre o poder do Estado (ninguém consegue obrigá-la nem mesmo a cumprir o contrato que assinou).

Ou há outra explicação para que até hoje não tenha sido decretado o bloqueio diário das receitas de pedágio da concessionária. Para tal, nem mesmo é preciso alegar a interrupção das obras, basta, simplesmente, alegar o total descumprimento do contrato de concessão do direito de exploração, haja vista, que todo o trecho de subida e descida entre a baixada e a rodoviária da cidade, se encontra em péssimo estado, pois não há manutenção há muito.

Não sou eu quem o diz. Em 14/9/17, "o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação judicial pedindo o fim do contrato de concessão da Concer, (...) e a suspensão imediata da tarifa de pedágio", com base na "paralisação das obras da nova pista de subida da Serra (...)".

E esta é "a quarta ação movida pelo MPF contra a concessionária".

E a ANTT o que tem a dizer? Aí vai:

"De acordo com a Procuradora da República , Joana Barreto, a ANTT comunicou, de forma não oficial, que haverá um reajuste imediato de 4% na tarifa de pedágio e que a publicação em Diário Oficial pode ocorrer a qualquer momento." 

Ei! Captou! A CONCER está prestes a receber um prêmio de 4% a mais em suas receitas por nos prover com a pior estrada do Brasil administrada pelo regime de concessão.

Mas isso não é de hoje. 

"A concessão, iniciada em 1995, se encerra em 2021. De acordo com o MPF, em mais de 21 anos de concessão, a Concer praticamente não cumpriu com as obrigações previstas no Plano de Exploração da Rodovia."

Mas a CONCER quer mais 10 anos de concessão e nem mesmo é uma pretensão que partiu dela e sim do governo Federal (nos finados de Dilma ou nos intermédios de Temer?) que deseja "manter essas empresas à frente das concessões, por meio de termos aditivos nos quais as empresas assumam compromissos de entregar novas obras".

ATENÇÃO: a frase acima não foi extraída de uma obra de ficção ou de non-sense!!!

Caso a CONCER obtenha uma extensão de prazo de 10 anos (sim, isto ainda é possível, os dirigentes da empresa não perderam a esperança) ela deverá arcar, "com base em relatório da Firjan", com um prejuízo já calculado "de pelo menos R$ 1,5 bilhão devido ao impacto logístico e dos possíveis acidentes, caso as melhorias na rodovia" vierem a ser "concluídas apenas em 2031".

Tem mais. Como sempre, como prática de obras públicas, como técnica para obtenção de superfaturamento e distribuição de propinas, o errado vem desde o nascedouro.

"Para a Justiça, o início das obras foi autorizado com base em um projeto básico de engenharia, o que é proibido por lei. A construção começou sem dotação orçamentária e foi alvo de aditivos que resultaram em prejuízos aos cofres públicos."

Ouvi dizer, não consegui achar nenhuma informação confiável - mas considero absolutamente plausível, lógico, obrigatório -, que a CONCER, não tendo recebido a cota parte que cabia ao governo Federal, tenha suspendido as obras respaldada numa interposição judicial acusando o governo Federal de não cumprimento de sua parte no acordo. Razoável.

Ouvi dizer, também, que a CONCER agora está absolutamente a cavaleiro, e acusando o governo pelo desastre. É coerente.

Mas a CONCER defende valores humanitários, de respeito aos direitos do cidadão, e não foge às suas responsabilidades, nem àquelas que atribui a outrem.

"A Concer, em nota enviada na noite desta sexta, informou que 52 famílias da Comunidade do Contorno afetadas pelo incidente já receberam o auxílio aluguel no valor de R$ 1 mil, além de cestas básicas e kits de higiene pessoal." Batam palmas e um VIVA! a tanta generosidade!!! 

Último ingrediente desta indigesta salada, capto a mensagem da CONCER através de seus advogados que, ainda não admitindo que a causa é desmoronamento causado pela não concretagem do túnel, está apurando as causas, mas que, de qualquer forma, não se responsabiliza pelo incidente.

Dito isto, vamos às projeções.

Um grande jogo de empurra já está se estabelecendo. Além do embate CONCER x GOVERNO FEDERAL e do embate MPF x (CONCER e GOVERNO FEDERAL), vamos assistir a um outro: o embate entre os que sempre foram contra o túnel e as entidades ecológicas e de preservação da nossa fauna e flora, que foram vitoriosos sendo a favor do túnel e contra a duplicação simples da estrada a, digamos, céu aberto (apropriado dizer que a caça virou caçador).

No nível prático, rasteiro, por quem e quando será providenciada uma solução através de um desvio de poucas centenas de metros para restabelecer o tráfego na pista de descida, eliminando o trajeto por dentro dos bairros Duarte da Silveira e Bingen, que, além de aumentar o tempo de trajeto entre 20 minutos e 1 hora, vai causar estragos nas vias da cidade? A CONCER não será porque se diz inocente. O governo Federal não será porque está com os gastos congelados. A Prefeitura de Petrópolis, à míngua, como todas as prefeituras, também não será.

Uma coisa já é certeza: a cidade de Petrópolis já está sendo prejudicada e, principalmente, a região de Itaipava e adjacências onde já é a grande perdedora e pagadora terceirizada desta lambança arquitetada, orquestrada, executada por psicopatas.

Quem assumirá a estrada, e em que condições, daqui a 3 anos? 

Qual sua aposta num prazo para termos esta estrada concluída?

Não dou meu palpite porque não estarei mais por aqui quando isto acontecer. Infelizmente.

FONTES:




quinta-feira, novembro 02, 2017

NASCE UMA NOVA HUMANIDADE

Homo deus, uma breve história do amanhã, de Yuval Noah Harari, israelense, ph.D em história por Oxford, professor na Universidade Hebraica de Jerusalém, ateu, é uma obra que, apesar de suas 400 páginas, se lê quase que compulsivamente.

O texto, instigante, premonitório, apocalíptico, controverso, tem a fluidez de quem escreve para ser lido por todos e semeado de exemplos, casos e dados.

Nos dias de  hoje, creio que todos nós, os mais velhos, compartilhamos um sentimento de perplexidade quando nos deparamos com as prioridades e valores dos jovens à nossa volta e nos indagamos "para onde esse modelo levará esta geração e as próximas"?

Moralidade, Deus, privacidade, identidade, sociedade, religião, homossexualismo, educação, capitalismo, comunismo, eleições, democracia, internet, redes sociais, isto e mais, são temas tratados por Yuval sem predizer o futuro, apenas sugerindo, questionando, deduzindo possíveis destinos a partir da avaliação de onde estamos.

Neste link "Homo deus", você pode baixar o extrato que fiz da minha leitura. Como tal, é uma coletânea de trechos pinçados por um critério absolutamente pessoal, sem compromisso com coerência ou ligação entre os parágrafos. Para uma construção mais consistente do pensamento sobre as propostas apresentadas, a leitura da íntegra creio ser essencial.

Coragem! Vai mexer com seus neurônios!


Este vídeo da palestra de Yuval no TED, é uma síntese-síntese do livro e lhe dá uma ideia geral dos principais aspectos que ele aborda na obra.

E aqui o experimento de Frans de Waal com duas macacas-capuchinhos, citado por Yuval.

sábado, outubro 21, 2017

VIDA EM FRAGMENTOS, HÁ MAIS DE VINTE ANOS

"Vida em Fragmentos - Sobre a Ética Pós-Moderna", de Zygmunt Bauman, é um ensaio escrito em 1995(*) sobre as realidades da Europa naquele momento histórico a partir do ponto de vista de um pensador europeu. 

Apesar de passados 27 anos desde a publicação da primeira edição, é desconcertante, atordoante, a atualidade de suas análises, tanto em relação ao mundo como quanto ao que se pode aplicar para o entendimento do que vivemos no Brasil.

A seguir, reproduzo algumas passagens para dar uma ideia do que estou dizendo. Muito mais há além disso, especialmente sobre moralidade na pós-modernidade. O extrato completo você acessa aqui.

(*) Só foi publicado no Brasil em 2011, pela Zahar!!!

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Sobrevivência é o nome do jogo, e a sobrevivência em questão é, em regra, sobreviver até o próximo por do sol. As coisas são tomadas à medida que se apresentam, esquecidas à medida que se vão.

Determinação para viver um dia de cada vez, descrever a vida cotidiana como uma sucessão de pequenas emergências, passam a ser os princípios orientadores de toda conduta racional.

[Segundo George Steiner, no mundo atual, a mensagem a ser transmitida é construída para ter] impacto máximo e obsolescência instantânea, uma vez que o espaço por ela ocupado precisa ser esvaziado tão logo tenha sido preenchido, para abrir espaço a novas mensagens que já forçam a entrada.

Ruas hoje arrumadas se tornam perigosas amanhã, as fábricas desaparecem com os postos de trabalho, habilidades não encontram mais compradores, o conhecimento se transforma em ignorância, a experiência profissional se converte em deficiência, redes de relações seguras desmoronam e enlameiam o espaço com lixo pútrido.

O cotidiano deve ser cada vez mais sangrento, chocante e, além do mais, "criativo", a fim de despertar algum sentimento que seja, e verdadeiramente chamar a atenção.

Um sintoma amplamente divulgado do retorno da violência é a crescente dificuldade em manter separada orientação paterna firme e abuso infantil; flerte e assedio, investida sexual e atentado violento ao pudor.

"A tecnologia se desenvolve porque se desenvolve"; cada vez mais novos meios são criados seguindo apenas seu próprio ímpeto (o ímpeto dos laboratórios de pesquisa e dos lucros do marketing).

É banal dizer que se pode matar hoje sem nunca olhar a vitima no rosto. Depois que afundar uma faca num corpo, estrangular ou atirar a curta distância foram substituídos por pontos que se deslocam numa tela de computador - como se faz nos divertidos consoles de viedogame ou na tela de um Nintendo portátil -, o assassino  não precisa mais ser impiedoso. Ele não tem a oportunidade de sentir piedade. Este, entretanto, é o aspecto mais óbvio e trivial, ainda que o mais dramático, de "uma ação à distância".

Os vira-latas de ontem eram os não produtores; os de hoje, são os não consumidores.

O divórcio entre a autarquia política e autarquia econômica não poderia ser mais completo, e parece irreversível.

A disputa pela soberania torna-se cada vez mais a competição por um melhor negócio na distribuição mundial de capital. Isso se aplica aos dois tipos de clamor por soberania ora observados. De um lado, os provenientes de localidades prósperas, como a Lombardia (Itália), a Catalunha (Espanha) (...)

[Uma explicação para o que enfrentamos nos relacionamentos com as empresas nos dias atuais.] As organizações se defendem [de nós] através do fenômeno da "flutuação de responsabilidade". Considerando que o membro da organização siga suas regras fielmente e faça o que seus superiores lhe disseram para fazer, não é ele quem assume a responsabilidade por qualquer efeito que sua ação possa produzir sobre seus objetivos. Quem assume, então? A questão é atordoante, uma vez que todos os outros membros da organização também seguem procedimentos e ordens. Parece, diz Hannah Arendt, que a organização é governada por ninguém - ou seja, é movida apenas pela lógica impessoal de princípios autopropulsores.

Nas palavras de Mulgan, "o egoísmo e a ganância, além da corrupção no governo e nas empresas, passaram a ser as marcas distintivas da era  neoconservadora.

[E quanto à sua história de fidelidade com as empresas, especialmente com bancos, não valer mais de nada] cada transação comercial, para ser verdadeiramente racional, deve começar do zero, esquecendo méritos passados e dívidas de gratidão.

Num mundo em mudança, à deriva, que possível beneficio pode um indivíduo obter da união de forças com outros também em destroços?

Quem precisa de política quando os interesses e significados seguem direções apartadas? O interesse pela política sempre teve seus altos e baixos, mas agora parece que conhecemos uma cepa totalmente nova do vírus da apatia eleitoral.

Mais importante e ainda menos provável é a perspectiva de um esforço legislativo que siga imperativos éticos de longo prazo, em vez de ser empurrado como um plâncton por cálculos e ganhos eleitorais imediatos e de curta duração.

As pessoas podem influenciar os assuntos que lhes digam respeito de duas maneiras: por meio da voz ou por meio da saída. A diferença entre voz e saída é a diferença entre compromisso e desprendimento, responsabilidade e indiferença, ação política e apatia.

O perigo é de a sede humana de controle e supremacia degenerar em crueldade e opressão desumanas.