NOTA INTRODUTÓRIA: Ayn Rand, a autora das ideias que trago aqui, construiu um personagem, portanto utópico, idealizado, com uma personalidade que leva ao extremo sua integridade em respeitar a si mesmo. Entre ele, o egoísta, e seus antagônicos, os altruístas, há uma infinidade de modelos de personalidade que mixam os dois princípios. O interesse da autora é questionar as ideias e valores defendidos por uma ideologia do coitadismo do desprovido, do medíocre, do parasita, tão presente hoje em nossa mundo, apesar destes escritos terem sido publicados há cerca de 80 anos, em plena Segunda Guerra Mundial. O seu interesse, portanto, não é o de tornar os bilhões de indivíduos do planeta em howards, mas demonstrar que a humanidade precisa deles para que os outros possam ter uma vida melhor. Boa leitura e fique bem!
Resolvi fazer esta publicação
para manifestar minha admiração pelo pensamento de Ayn Rand e no intuito de
estimular outras pessoas a refletir sobre suas ideias. Retirei algumas partes
de um discurso do personagem Howard que considerei pertinentes à nossa
atualidade e editei esta postagem[2].
Preciso, antes, esclarecer dois termos que serão frequentes. O primeiro é “criador”, com letra minúscula, significando, simplesmente, “aquele que cria”, que faz, que realiza, que empreende, que corre riscos e assume as consequências com a naturalidade dos estoicos. O segundo, em contraste, é o “parasita”, aquele que se coloca como “vítima”, injustiçado, que clama por proteção e se guia pela inveja.
No prefácio, a autora justifica
sua motivação para expor suas ideias dizendo que “não podemos abandonar o
mundo para aqueles que desprezamos”. E mais adiante exemplifica dizendo
que “os que odeiam o homem”, como ela o entende, são aqueles que o veem como uma criatura
desamparada, depravada e desprezível - e lutam para jamais deixá-lo descobrir
que não é assim. Para ela, há uma história milenar de pregação intencional e
maléfica da fragilidade humana.
Estas notas que faço visam
tão-somente o entendimento correto das passagens selecionadas. Evidentemente
para entender com absoluta clareza em que a autora acreditava, é preciso ler
todo o romance.
Se você preferir, o áudio-vídeo desta publicação está no no “Canal do Paulinho”[3] com o título “O Discurso de Howard Roark”. Vamos lá.
“Há milhares de anos, o primeiro homem
descobriu como fazer o fogo. Ele provavelmente foi queimado na fogueira que
ensinara os seus irmãos a acender. Foi visto como um homem maligno que havia
tratado com um demônio temido pela humanidade.
“Mas a partir de então, os homens
possuíram o fogo para aquecer-se, para cozinhar sua comida, iluminar suas
cavernas. Ele lhes deu uma dádiva que não haviam concebido, e removeu a
escuridão da face da Terra.
“Séculos mais tarde, o primeiro homem
inventou a roda. Ele provavelmente foi despedaçado na própria roda que ensinara
seus irmãos a construir. Foi visto como um transgressor que se aventurou em
território proibido. Mas a partir de então, os homens puderam viajar além de
qualquer horizonte. Ele lhes deu uma dádiva que não tinham concebido e abriu as
estradas do mundo.
“Esse homem, o primeiro que não
se submete a ninguém, figura nos primeiros capítulos de todas as lendas que a
humanidade já registrou sob suas origens. (...) Adão foi condenado a sofrer
porque comeu o fruto da árvore do conhecimento. Qualquer que fosse a lenda, em
algum lugar nas sombras de sua memória, a humanidade sabia que sua glória
começou com um único homem e que ele pagou pela sua coragem.
“Ao longo dos séculos, existiram
homens que deram os primeiros passos em novos caminhos, armados apenas com sua
própria visão. Seus objetivos variavam, mas todos eles tinham algo em comum: o
seu passo era o primeiro, o seu caminho era novo, a sua visão era original e a
reação que receberam foi... o ódio.
“Os grandes criadores -
pensadores, artistas, cientistas, inventores... - enfrentaram sozinhos os
homens de seu tempo. Todas as grandes ideias originais foram atacadas. Todas as
invenções revolucionárias foram denunciadas. O primeiro motor foi considerado
uma bobagem. O avião impossível. A máquina de tear maligna. A anestesia,
pecaminosa. Mas os homens de visão independente seguiram adiante. Eles lutaram,
sofreram e pagaram. Mas venceram.
“Nenhum criador foi motivado pelo
desejo de servir aos seus irmãos, porque estes rejeitavam a dádiva que ele
oferecia, a dádiva que destruía a rotina preguiçosa de suas vidas. A verdade do
criador era sua única motivação, a sua própria verdade e seu próprio esforço
para alcançá-la da sua própria maneira. Uma sinfonia, um livro, um motor, uma
filosofia, um avião ou um prédio... sua criação era seu objetivo e sua vida. (...)
A criação que dava forma à sua verdade. Ele colocava a sua verdade acima de
tudo e a defendia contra todos.
“Sua visão, sua força e sua
coragem originavam-se de seu próprio espírito. O espírito de um homem,
entretanto, é o seu próprio ego, a entidade que é a sua própria consciência. Pensar,
sentir, julgar e agir são funções do ego.
“Os criadores não eram
altruístas. (...) O criador não servia a nada nem a ninguém. Ele vivia para si
próprio.
“É somente porque viveu para si
próprio é que o criador pode conquistar as coisas que são a glória da
humanidade. Essa é a natureza da conquista.
“O homem (...) nasce desarmado, seu cérebro é sua única arma.
(...) Tudo o que somos e tudo o que temos vem de um único atributo do homem: a
capacidade de sua mente racional.
“Mas a mente é um atributo do
indivíduo. Um cérebro coletivo é algo que não existe. (...) O uso da razão tem que ser executado por cada
um individualmente. (...) Nenhum homem pode emprestar seu cérebro para que
outros pensem. Todas as funções do corpo e do espírito são individuais, não
podem ser compartilhadas nem transferidas.
“A força motriz é a faculdade
criativa, que usa [uma criação] como material e origina o próximo passo. Essa
faculdade criativa (...) é propriedade
de cada indivíduo. (...) Nenhum homem pode dar a outro a capacidade de
pensar, e essa capacidade é o nosso único meio de sobrevivência.
“O homem pode sobreviver de 2
maneiras, por meio do uso independente de sua mente ou como um parasita
alimentado pelas mentes de outros. (...) O parasita toma emprestado. O criador
enfrenta a natureza sozinho. O parasita
enfrenta a natureza através de um intermediário. A preocupação do criador é a conquista
da natureza, a preocupação do parasita é a Conquista dos homens.
“O criador vive em função do seu
trabalho, ele não precisa de ninguém. Seu objetivo principal está dentro de si
mesmo. O parasita vive em função dos outros, ele precisa dos outros. Os outros
são a sua motivação principal.
“O parasita declara que o homem
existe para servir aos outros. Ele prega altruísmo, que é a doutrina que exige
que o homem viva para os outros e dê mais importância aos outros que a si
próprio.
“Aos homens foi ensinado que a
dependência é uma virtude. Mas um parasita faz daqueles a quem serve parasitas
também. O homem que vive para servir aos outros é o escravo. (...) O mais repugnante é o conceito de escravidão
espiritual. (...) O homem que se escraviza voluntariamente em nome do amor é a
criatura mais desprezível que existe. Ele degrada a dignidade do homem e
degrada o conceito de amor, mas essa é a essência do altruísmo.
“Aos homens foi ensinado que sua primeira preocupação é aliviar o sofrimento dos outros. (...) Sob essa perspectiva, o homem deve desejar que os outros sofram, para que ele possa ser virtuoso. Essa é a natureza do altruísmo.
“O criador não se preocupa com a
doença, mas com a vida. Ainda assim, o trabalho do criador eliminou doença após
doença, curando tanto o corpo quanto o espírito do homem, e aliviou o
sofrimento humano numa escala que altruísta nenhum jamais poderia conceber. (...)
O criador é o homem que discorda. Aos homens foi ensinado que nadar a favor da
corrente é uma virtude. Mas o criador é o homem que vai contra a corrente. Aos
homens foi ensinado que se unir aos outros é uma virtude, mas o criador é o
homem que fica sozinho.
“Aos homens foi ensinado que o
ego é sinônimo do mal e que esquecer o ego e ser altruísta é o ideal da
virtude, mas o criador é o egoísta no sentido mais absoluto, pois o homem
sem ego é aquele que não pensa.
“Duas concepções foram oferecidas
ao homem como polos do bem e do mal:
altruísmo e egoísmo. (...) Quando a
essas concepções foi adicionada a ideia de que o homem deve se alegrar com o
sacrifício pessoal, [ou seja] a auto imolação, a armadilha se fechou. O homem
foi forçado a aceitar o masoquismo como seu ideal, sob ameaça de que o sadismo
era sua única alternativa. Essa foi a maior fraude jamais perpetrada contra a
humanidade.
“A escolha não é o sacrifício
pessoal ou domínio sobre os outros. Ela é independência ou dependência. O
código do criador ou o código do parasita (...). Essa é a questão básica, e ela
procede da alternativa entre a vida e a morte. (...) Tudo o que resulta
do ego independente do homem é bom. Tudo o que resulta da dependência de um
homem em relação ao outro é mau.
“O egoísta, no sentido mais
absoluto, não é o homem que sacrifica os outros. O egoísta é o homem que
está acima da necessidade de usar os outros. (...) Ele não existe para
benefício de nenhum outro homem e não pede a nenhum outro homem que exista para
seu benefício. Essa é a única forma possível de irmandade e respeito mútuo
entre os homens.
“A Independência de um homem é a
única medida da sua virtude, do seu valor. (...) Não o que fez ou deixou de
fazer pelos outros. O único padrão de dignidade pessoal que existe é a independência.
“Os homens trocam o seu trabalho
de livre e espontânea vontade, com mútuo consentimento e para vantagem mútua
sempre que seus interesses pessoais [egoístas] coincidem e ambos desejam a
troca. Se não desejam tratar um com o outro, não são forçados a fazer isso.
Ambos podem continuar seguindo seus caminhos. Essa é a única forma possível de
relacionamento entre iguais. Qualquer outra é uma relação entre escravo e dono,
ou entre vítima e carrasco.
“O primeiro direito na Terra é o
direito do ego. A principal obrigação do homem é consigo mesmo. Sua lei moral é
nunca permitir que seus principais objetivos residam dentro de outros. Sua
obrigação moral é fazer o que deseja, desde que seu desejo não dependa
basicamente de outros (...)
“Aqueles que dominam os outros
não são egoístas, eles não criam nada. A sua existência depende inteiramente de
outros. (...) Eles são tão dependentes
quanto o mendigo, (...)
“O criador rejeitado,
hostilizado, perseguido, explorado, perseverou, seguiu adiante e, com sua
energia, carregou toda a humanidade com ele. O parasita não contribuiu com
nada para esse processo, exceto com os obstáculos. (...)
“O bem comum do coletivo, da
raça, da classe, do estado, foi a negação e a justificativa de todas as
tiranias estabelecidas sobre os homens. Os maiores horrores da história foram
cometidos em nome de motivos altruísticos. Será que já foi cometido algum ato
de egoísmo que possa igualar a carnificina executada pelos discípulos do
altruísmo? (...) Os piores carrascos foram os mais sinceros, eles acreditavam
na sociedade perfeita, alcançada através da guilhotina e do pelotão de
fuzilamento. Ninguém questionou na história o direito de matar porque matavam
por motivações altruístas.
“Os atores mudam, mas o curso da
tragédia permanece o mesmo. Humanitários que começam declarando seu amor pela
humanidade e acabam com banhos de sangue. Assim foi e assim será enquanto se
acreditar que uma ação é boa se for altruísta. (...)
“A única forma de os homens se
beneficiarem mutuamente e a única declaração de um relacionamento apropriado
entre eles é: não se meta.
“A sua própria felicidade
(...) é uma motivação pessoal individual,
egoísta. Olhem para os resultados,
examinem suas próprias consciências.
“Agora, na nossa época, o
coletivismo, o reinado do parasita (...) , do medíocre, o monstro antigo está à
solta e correndo descontrolado. Ele
levou os homens a um nível de indecência intelectual nunca igualado na face da
Terra. Causou horror numa escala sem precedentes. Envenenou todas as mentes.
Engoliu a maior parte da Europa. Está tomando conta de nosso país.
“Eu vim aqui para dizer que não
reconheço o direito de ninguém a um minuto sequer da minha vida, nem a nenhuma
parte da minha energia, nem a nenhuma conquista minha. (...)
“Eu quis vir aqui dizer que sou
um homem que não existe para servir aos outros. Isso precisava ser dito. O
mundo está perecendo por causa de uma orgia de sacrifícios pessoais.
“Eu quis vir aqui dizer que a
integridade do trabalho criativo de um homem é muito mais importante que
qualquer projeto de caridade. Eu não reconheço nenhuma obrigação para com os outros
homens, com uma única exceção, respeitar a sua liberdade e não participar
de nenhuma maneira em uma sociedade escravocrata.”
O que você acaba de ler, é uma mínima parte das ideias defendidas por Ayn Rand, uma cidadã russa que
emigrou de seu país após a revolução bolchevique, e se tornou cidadã americana.
Seu livro “A Revolta de Atlas” já ultrapassou a marca dos 11 milhões de
exemplares vendidos e é considerado, depois da Bíblia, o livro mais influente
nos Estados Unidos. “A Nascente” já ultrapassou 6 milhões e seu texto é
discutido em universidades.”
Obrigado pela sua atenção.