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quarta-feira, agosto 27, 2025

O DISCURSO DE HOWARD ROARK

NOTA INTRODUTÓRIA: Ayn Rand, a autora das ideias que trago aqui, construiu um personagem, portanto utópico, idealizado, com uma personalidade que leva ao extremo sua integridade em respeitar a si mesmo. Entre ele, o egoísta, e seus antagônicos, os altruístas, há uma infinidade de modelos de personalidade que mixam os dois princípios. O interesse da autora é questionar as ideias e valores defendidos por uma ideologia do coitadismo do desprovido, do medíocre, do parasita, tão presente hoje em nossa mundo, apesar destes escritos terem sido publicados há cerca de 80 anos, em plena Segunda Guerra Mundial. O seu interesse, portanto, não é o de tornar os bilhões de indivíduos do planeta em howards, mas demonstrar que a humanidade precisa deles para que os outros possam ter uma vida melhor. Boa leitura e fique bem! 

Considero Ayn Rand uma filósofa em essência, pois em seus romances ela vai muito além de ser uma escritora excepcional. Suas obras são um mergulho profundo na alma humana. Depois de ler “A Revolta de Atlas”, em 2024, terminei neste agosto de 2025 a leitura de “A Nascente”[1], uma verdadeira ode à integridade de pensamentos e atos. Seus personagens são construídos com um rigor só encontrado nos maiores escritores de todos os tempos. Sua leitura, se não transformar o leitor, abala-o inexoravelmente, pois ela não tem medo de apertar com toda a força os pontos mais dolorosos de nossos espíritos e certezas sobre nossos valores.

Resolvi fazer esta publicação para manifestar minha admiração pelo pensamento de Ayn Rand e no intuito de estimular outras pessoas a refletir sobre suas ideias. Retirei algumas partes de um discurso do personagem Howard que considerei pertinentes à nossa atualidade e editei esta postagem[2].

Preciso, antes, esclarecer dois termos que serão frequentes. O primeiro é “criador”, com letra minúscula, significando, simplesmente, “aquele que cria”, que faz, que realiza, que empreende, que corre riscos e assume as consequências com a naturalidade dos estoicos. O segundo, em contraste, é o “parasita”, aquele que se coloca como “vítima”, injustiçado, que clama por proteção e se guia pela inveja.

No prefácio, a autora justifica sua motivação para expor suas ideias dizendo que “não podemos abandonar o mundo para aqueles que desprezamos”. E mais adiante exemplifica dizendo que “os que odeiam o homem”, como ela o entende,  são aqueles que o veem como uma criatura desamparada, depravada e desprezível - e lutam para jamais deixá-lo descobrir que não é assim. Para ela, há uma história milenar de pregação intencional e maléfica da fragilidade humana.

Estas notas que faço visam tão-somente o entendimento correto das passagens selecionadas. Evidentemente para entender com absoluta clareza em que a autora acreditava, é preciso ler todo o romance.

Se você preferir, o áudio-vídeo desta publicação está no no “Canal do Paulinho”[3] com o título “O Discurso de Howard Roark”. Vamos lá.

“Há milhares de anos, o primeiro homem descobriu como fazer o fogo. Ele provavelmente foi queimado na fogueira que ensinara os seus irmãos a acender. Foi visto como um homem maligno que havia tratado com um demônio temido pela humanidade.

“Mas a partir de então, os homens possuíram o fogo para aquecer-se, para cozinhar sua comida, iluminar suas cavernas. Ele lhes deu uma dádiva que não haviam concebido, e removeu a escuridão da face da Terra.

“Séculos mais tarde, o primeiro homem inventou a roda. Ele provavelmente foi despedaçado na própria roda que ensinara seus irmãos a construir. Foi visto como um transgressor que se aventurou em território proibido. Mas a partir de então, os homens puderam viajar além de qualquer horizonte. Ele lhes deu uma dádiva que não tinham concebido e abriu as estradas do mundo.

“Esse homem, o primeiro que não se submete a ninguém, figura nos primeiros capítulos de todas as lendas que a humanidade já registrou sob suas origens. (...) Adão foi condenado a sofrer porque comeu o fruto da árvore do conhecimento. Qualquer que fosse a lenda, em algum lugar nas sombras de sua memória, a humanidade sabia que sua glória começou com um único homem e que ele pagou pela sua coragem.

“Ao longo dos séculos, existiram homens que deram os primeiros passos em novos caminhos, armados apenas com sua própria visão. Seus objetivos variavam, mas todos eles tinham algo em comum: o seu passo era o primeiro, o seu caminho era novo, a sua visão era original e a reação que receberam foi... o ódio.

“Os grandes criadores - pensadores, artistas, cientistas, inventores... - enfrentaram sozinhos os homens de seu tempo. Todas as grandes ideias originais foram atacadas. Todas as invenções revolucionárias foram denunciadas. O primeiro motor foi considerado uma bobagem. O avião impossível. A máquina de tear maligna. A anestesia, pecaminosa. Mas os homens de visão independente seguiram adiante. Eles lutaram, sofreram e pagaram. Mas venceram.

“Nenhum criador foi motivado pelo desejo de servir aos seus irmãos, porque estes rejeitavam a dádiva que ele oferecia, a dádiva que destruía a rotina preguiçosa de suas vidas. A verdade do criador era sua única motivação, a sua própria verdade e seu próprio esforço para alcançá-la da sua própria maneira. Uma sinfonia, um livro, um motor, uma filosofia, um avião ou um prédio... sua criação era seu objetivo e sua vida. (...) A criação que dava forma à sua verdade. Ele colocava a sua verdade acima de tudo e a defendia contra todos.

“Sua visão, sua força e sua coragem originavam-se de seu próprio espírito. O espírito de um homem, entretanto, é o seu próprio ego, a entidade que é a sua própria consciência. Pensar, sentir, julgar e agir são funções do ego.

“Os criadores não eram altruístas. (...) O criador não servia a nada nem a ninguém. Ele vivia para si próprio.

“É somente porque viveu para si próprio é que o criador pode conquistar as coisas que são a glória da humanidade. Essa é a natureza da conquista.

“O homem (...)  nasce desarmado, seu cérebro é sua única arma. (...) Tudo o que somos e tudo o que temos vem de um único atributo do homem: a capacidade de sua mente racional.

“Mas a mente é um atributo do indivíduo. Um cérebro coletivo é algo que não existe. (...)  O uso da razão tem que ser executado por cada um individualmente. (...) Nenhum homem pode emprestar seu cérebro para que outros pensem. Todas as funções do corpo e do espírito são individuais, não podem ser compartilhadas nem transferidas.

“A força motriz é a faculdade criativa, que usa [uma criação] como material e origina o próximo passo. Essa faculdade criativa (...)  é propriedade de cada indivíduo. (...) Nenhum homem pode dar a outro a capacidade de pensar, e essa capacidade é o nosso único meio de sobrevivência.

“O homem pode sobreviver de 2 maneiras, por meio do uso independente de sua mente ou como um parasita alimentado pelas mentes de outros. (...) O parasita toma emprestado. O criador enfrenta a natureza sozinho. O  parasita enfrenta a natureza através de um intermediário. A preocupação do criador é a conquista da natureza, a preocupação do parasita é a Conquista dos homens.

“O criador vive em função do seu trabalho, ele não precisa de ninguém. Seu objetivo principal está dentro de si mesmo. O parasita vive em função dos outros, ele precisa dos outros. Os outros são a sua motivação principal.

“O parasita declara que o homem existe para servir aos outros. Ele prega altruísmo, que é a doutrina que exige que o homem viva para os outros e dê mais importância aos outros que a si próprio.

“Aos homens foi ensinado que a dependência é uma virtude. Mas um parasita faz daqueles a quem serve parasitas também. O homem que vive para servir aos outros é o escravo. (...)  O mais repugnante é o conceito de escravidão espiritual. (...) O homem que se escraviza voluntariamente em nome do amor é a criatura mais desprezível que existe. Ele degrada a dignidade do homem e degrada o conceito de amor, mas essa é a essência do altruísmo.

Aos homens foi ensinado que sua primeira preocupação é aliviar o sofrimento dos outros. (...) Sob essa perspectiva, o homem deve desejar que os outros sofram, para que ele possa ser virtuoso. Essa é a natureza do altruísmo.

“O criador não se preocupa com a doença, mas com a vida. Ainda assim, o trabalho do criador eliminou doença após doença, curando tanto o corpo quanto o espírito do homem, e aliviou o sofrimento humano numa escala que altruísta nenhum jamais poderia conceber. (...) O criador é o homem que discorda. Aos homens foi ensinado que nadar a favor da corrente é uma virtude. Mas o criador é o homem que vai contra a corrente. Aos homens foi ensinado que se unir aos outros é uma virtude, mas o criador é o homem que fica sozinho.

“Aos homens foi ensinado que o ego é sinônimo do mal e que esquecer o ego e ser altruísta é o ideal da virtude, mas o criador é o egoísta no sentido mais absoluto, pois o homem sem ego é aquele que não pensa.

“Duas concepções foram oferecidas ao homem  como polos do bem e do mal: altruísmo e egoísmo. (...)  Quando a essas concepções foi adicionada a ideia de que o homem deve se alegrar com o sacrifício pessoal, [ou seja] a auto imolação, a armadilha se fechou. O homem foi forçado a aceitar o masoquismo como seu ideal, sob ameaça de que o sadismo era sua única alternativa. Essa foi a maior fraude jamais perpetrada contra a humanidade.

“A escolha não é o sacrifício pessoal ou domínio sobre os outros. Ela é independência ou dependência. O código do criador ou o código do parasita (...). Essa é a questão básica, e ela procede da alternativa entre a vida e a morte. (...) Tudo o que resulta do ego independente do homem é bom. Tudo o que resulta da dependência de um homem em relação ao outro é mau.

“O egoísta, no sentido mais absoluto, não é o homem que sacrifica os outros. O egoísta é o homem que está acima da necessidade de usar os outros. (...) Ele não existe para benefício de nenhum outro homem e não pede a nenhum outro homem que exista para seu benefício. Essa é a única forma possível de irmandade e respeito mútuo entre os homens.

“A Independência de um homem é a única medida da sua virtude, do seu valor. (...) Não o que fez ou deixou de fazer pelos outros. O único padrão de dignidade pessoal que existe é a independência.

“Os homens trocam o seu trabalho de livre e espontânea vontade, com mútuo consentimento e para vantagem mútua sempre que seus interesses pessoais [egoístas] coincidem e ambos desejam a troca. Se não desejam tratar um com o outro, não são forçados a fazer isso. Ambos podem continuar seguindo seus caminhos. Essa é a única forma possível de relacionamento entre iguais. Qualquer outra é uma relação entre escravo e dono, ou entre vítima e carrasco.

“O primeiro direito na Terra é o direito do ego. A principal obrigação do homem é consigo mesmo. Sua lei moral é nunca permitir que seus principais objetivos residam dentro de outros. Sua obrigação moral é fazer o que deseja, desde que seu desejo não dependa basicamente de outros (...)

“Aqueles que dominam os outros não são egoístas, eles não criam nada. A sua existência depende inteiramente de outros. (...)  Eles são tão dependentes quanto o mendigo, (...)

“O criador rejeitado, hostilizado, perseguido, explorado, perseverou, seguiu adiante e, com sua energia, carregou toda a humanidade com ele. O parasita não contribuiu com nada para esse processo, exceto com os obstáculos. (...)

“O bem comum do coletivo, da raça, da classe, do estado, foi a negação e a justificativa de todas as tiranias estabelecidas sobre os homens. Os maiores horrores da história foram cometidos em nome de motivos altruísticos. Será que já foi cometido algum ato de egoísmo que possa igualar a carnificina executada pelos discípulos do altruísmo? (...) Os piores carrascos foram os mais sinceros, eles acreditavam na sociedade perfeita, alcançada através da guilhotina e do pelotão de fuzilamento. Ninguém questionou na história o direito de matar porque matavam por motivações altruístas.

“Os atores mudam, mas o curso da tragédia permanece o mesmo. Humanitários que começam declarando seu amor pela humanidade e acabam com banhos de sangue. Assim foi e assim será enquanto se acreditar que uma ação é boa se for altruísta. (...)

“A única forma de os homens se beneficiarem mutuamente e a única declaração de um relacionamento apropriado entre eles é: não se meta.

“A sua própria felicidade (...)  é uma motivação pessoal individual, egoísta.  Olhem para os resultados, examinem suas próprias consciências.

“Agora, na nossa época, o coletivismo, o reinado do parasita (...) , do medíocre, o monstro antigo está à  solta e correndo descontrolado. Ele levou os homens a um nível de indecência intelectual nunca igualado na face da Terra. Causou horror numa escala sem precedentes. Envenenou todas as mentes. Engoliu a maior parte da Europa. Está tomando conta de nosso país.

“Eu vim aqui para dizer que não reconheço o direito de ninguém a um minuto sequer da minha vida, nem a nenhuma parte da minha energia, nem a nenhuma conquista minha. (...)

“Eu quis vir aqui dizer que sou um homem que não existe para servir aos outros. Isso precisava ser dito. O mundo está perecendo por causa de uma orgia de sacrifícios pessoais.

“Eu quis vir aqui dizer que a integridade do trabalho criativo de um homem é muito mais importante que qualquer projeto de caridade. Eu não reconheço nenhuma obrigação para com os outros homens, com uma única exceção, respeitar a sua liberdade e não participar de nenhuma maneira em uma sociedade escravocrata.

O que você acaba de ler, é uma mínima parte das ideias defendidas por Ayn Rand, uma cidadã russa que emigrou de seu país após a revolução bolchevique, e se tornou cidadã americana. Seu livro “A Revolta de Atlas” já ultrapassou a marca dos 11 milhões de exemplares vendidos e é considerado, depois da Bíblia, o livro mais influente nos Estados Unidos. “A Nascente” já ultrapassou 6 milhões e seu texto é discutido em universidades.”


Obrigado pela sua atenção.





[1] Ayn Rand (1905-1985). “A Nascente” (no original “Fountainhead”), foi escrito entre 1936 e 1943, quando foi publicado, isto depois de ter sido rejeitado por outras 12 editoras.

[2] Entre colchetes [] são inserções minhas.

[3] Canal do Paulinho: 

https://www.youtube.com/user/paulovogel09