domingo, agosto 17, 2025

A PRECISÃO DE OLAVO

 

Me afastei do noticiário político recentemente por algumas razões. Uma delas é a inutilidade da participação de gente como eu, integrante desta massa chamada povo. Uma outra razão é a repetitividade cíclica das falas hipócritas de nossos psicopatas cocos, líderes – “zélites” como os chamou Olavo - acobertados pela oligarquia[1] hipócrita dominada pelo socinismo assassino de mentes.

E é a Olavo de Carvalho[2] que recorro para ecoar, em letras garrafais, em negrito e com aspas, o aviso que ele, de seu túmulo, está gritando:

“EU OS AVISEI!!!

Se reconheço minha insignificância e não tendo o Mestre em vida para mexer com nossos neurônios, ao menos me obrigo a não deixar que se enterre no túmulo da história brasileira, suas relevantes advertências como paladino da resistência à barbárie político-cultural que vivenciamos. 

Os que leram Olavo e entenderam o que tentou transmitir e não têm problema de memória, a leitura desta postagem é uma revisão e exercício contra o esquecimento. Reafirmo o verso "É preciso reler Olavo" no "Poema da Precisão" que publiquei no canal do Paulinho.

Este conteúdo tem uma relevância maior para os demais, os “desavisados e sabichões”[3], com o intuito de lhes esclarecer que nada do hoje é fruto do agora, mas de uma construção histórica lenta e gradual, obra de muitas mentes neurologicamente perturbadas.

O reproduzido aqui coletei de “Seminarium Olavo de Carvalho – Páginas de um diário filosófico – Volume 2: 2010 a 2013” e de “O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota”. Ao avaliar cada pensamento, cada alerta, atente para o ano em que foram proferidos.


 

DE SEMINARIUM

Respeito a divisão feita na edição da Vide Editorial.


COMUNISMO E FORO DE SÃO PAULO

2012

“(...) por que os sovietólogos ocidentais, tão prestigiosos, tão bem pagos tão dotados de amplos meios de investigação, não atinaram nem por um momento com a queda iminente da URSS?”

“A lógica revolucionária é a desorganização sistemática da sociedade e o aumento do poder do grupo revolucionário.”

 

2013

“Uma hipótese viável é que o estado de confusão se torne crônico e se integre no dia a dia da população, como aconteceu com o banditismo, servindo de cortina de fumaça para mudanças mais profundas e menos visíveis vindas de cima.”

“Se os militares não reagirem diante do descalabro, a solução para os que não admitem tal estado de coisas é pedir para serem fuzilados em praça pública ou exilados para alhures, por que aqui será impossível viver.” General de Brigada Valmir Fonseca Azevedo Pereira.

“Porque o sujeito não se sente comunista, e participa do movimento, ele conclui que o movimento não é comunista.”

“A soma das vozes populares dá potência ao movimento, mas é a liderança que o canaliza e aproveita politicamente.”

“No meu modesto entender, [os militares] só estão buscando uma desculpa elegante para desaparecer, e aliás nem precisam disso, pois já desapareceram.”

“Movimentos custam muito dinheiro; nenhum tem começo modesto, todos vêm das grandes fortunas.”

“Em todas as revoluções, quem tira proveito da agitação pública não é quem tem o coração do lado das massas, é quem tem a visão estratégica de para onde conduzi-las.”

“Lênin só voltou à Rússia porque tinha uma elite organizada, com vinte anos de experiência, pronta para tomar o poder.”

“Ninguém tenta se precaver contra um mal que julga inexistente.”

“A zélite no Brasil é cagona por natureza, sempre puxa o saco do mais forte.”

“’Causa’, por definição, é uma meta coletiva a que o indivíduo serve sem ter nenhum controle de para onde ela vai, mas confiando que irá na direção dos seus sonhos, e, portanto, assumindo uma responsabilidade que mais tarde, se a coisa acabar tomando um rumo indesejado, ele negará com todas as suas forças.”

“Livrar-se de um último ranço de esquerdismo sentimental é difícil.”

“A estratégia do Foro de São Paulo é a revolução permanente, obstinada, incessante, variando de camuflagem dia após dia. São pequenos golpes que se acumulam ao longo dos anos até que a vítima se torna insensível e incapaz de se defender.”

“Ocupação de espaços não se combate com ideias, mas com desocupação de espaços.”

“O que está em jogo não é liberdade de opinião e sim o acesso a instrumentos de influência, que são instrumentos de poder.”

“Fulanos que só têm “divergências de ideias” com os comunistas, mas não se envergonham e até se orgulham de ser amigos deles, são como um pai que discorda gentilmente de alguém que estupre a sua filhinha.”


POLÍTICA E MILITÂNCIA

2011

“Se o agressor é negro [ou LGBTQI+] , a legitima defesa é proibida.”

“Quando uma teoria não tem substância cognitiva própria, quando ela é apenas uma camuflagem de um jogo de poder, discuti-la em si mesma é entrar no jogo. É preciso quebrar a confiança do jogador, fazê-lo pedir para sair.”

“(...) o golpe de 64 exigiu dois anos de preparação (...)”

“Decorridos vinte anos a China enriquecida pelo dinheiro americano tornou-se a  maior credora dos Estados Unidos, a ditadura continua firmemente instalada em Beijing e a democracia corre o risco de extinguir-se na América.”

[Por acaso] “uma criança pode avaliar as diversas identidades sexuais possíveis e escolher a sua antes da experiência de ter alguma?”

 

CULTURA, ESTUDOS E ASSUNTOS PERENES

2012

“Infelizmente não é possível transmitir alta cultura a milhões de pessoas antes de havê-la transmitido a uns milhares, nem a uns milhares antes de havê-la transmitido a uns poucos.”

“As ideologia são, por definição, simplificações deformantes.”

“Não há comunista bem intencionado. Todo comunista é um mau caráter,  um pervertido mental, um porco. [E quem dá atenção e direitos a eles] é um filho da puta.”

“O comunismo não é contra o liberal-conservadorismo: é contra a humanidade.”

“O grande paradoxo que vocês vão encontrar no estudo do comunismo é: Como é possível que uma proposta que sempre fracassou em criar uma sociedade decente tenha ao mesmo tempo um sucesso sempre crescente como movimento revolucionário?” [Uma ideia de resposta você pode encontrar no PODPAULOS “A Ignorância dos Patos Novos”, de 10/8/25: https://www.youtube.com/watch?v=tuYyPwvPZwg&t=206s]

“O Brasil, de dentro e de perto, é o horror, a depressão, o nojo, a raiva impotente. De longe, é só tristeza e pena. É mais fácil de aguentar.”

“O problema do Brasil é que ele mata você aos poucos, anestesicamente, quase docemente, e a mídia ainda capricha no soporífero para alimentar sonhos insensatos e manter você numa fila eterna, à espera do impossível.”

“Preparem-se. Nos próximos anos a desordem do mundo atingirá o patamar da alucinação permanente e por toda parte a mentira e a insanidade reinarão sem freios.”

“Pode haver alguma satisfação em contestar erros filosóficos, mas maior, suprema, insuperável, é a satisfação de provar que um grande filósofo tinha ainda mais razão do que ele próprio chegou a perceber.”

“Tudo em volta induz à loucura, ao infantilismo, à exasperação imaginativa. Contra isso o estudo não basta. Tomem consciência da infecção moral e lutem, lutem, lutem pelo seu equilíbrio, pela sua maturidade, pela sua lucidez.”

“Todo psicopata é, por definição, psicologicamente invencível. Por mais que você lhe mostre seus erros e prove os seus crimes ele continuará não só proclamando inocência, mas cantando vitória.”

Groucho Marx: “Afinal, você vai crer em mim ou nos seus próprios olhos?”

“Se [vocês] não conseguem evitar a companhia dos psicopatas mediante uma precaução instintiva, podem acabar cedendo e se submetendo ao domínio da mente mais agressiva, mais veloz, mais maliciosa e mais hábil.”

[Quando identificamos algo de anormal em nosso antagonista] “É preciso advertir a plateia de que estamos todos na presença de um criminoso.”

“O Brasil tem um excesso de jovens palpiteiros e uma carência fatal de homens adultos.”

“Numa sociedade subdesenvolvida, a cultura adversária torna-se rapidamente cultura oficial e seu empreendimento de auto destruição, agora legitimado pelo estado, arrasta a população inteira para a loucura e o crime.”

Erik Satie: “Nem todos os animais receberam os benefícios de uma educação humana.”

 

DE “O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA NÃO SER UM IDIOTA”

A coexistência pacifica das instituições democráticas formais com a total supressão da concorrência ideológica que define as democracias saudáveis, eis precisamente o que caracteriza a situação brasileira atual. (1999)

Todos parecem surpresos com o estado de coisas, mas ele era mais que previsível. Desde o começo da década de noventa, quando o PT investiu  pesado na construção de uma imagem de moralidade impoluta, avisei que a chegada desse partido ao poder inauguraria uma era de corrupção que faria empalidecer os mais rubros escândalos dos governos anteriores. (2005)

Os velhos políticos corruptos limitavam-se a roubar. O PT transformou o roubo em sistema, o sistema em militância, a militância em substitutivo das leis e instituições, rebaixadas à condição de entraves temporários à construção da grande utopia. (2005)




[1] Cocoligarquia, termo que uso para referenciar a oligarquia corrupta e covarde responsável por empurrar o Brasil para o precipício, esquecendo que estão dentro do mesmo barco.

[2] Olavo faleceu em jan/2022, aos 74 anos, em sua casa na Virginia, USA.

[3] “Desavisado e Sabichão” é título de um livro que escrevi há vinte anos. A íntegra está em: www.desavisadoesabichao.blogspot.com








quarta-feira, julho 30, 2025

IMPREVISÍVEIS PREVISÕES


Estamos no final de julho de 2025, um mês que, prevejo, poderá ficar na história como marco de um tempo de incertezas, especialmente para o Brasil, este país capenga, previsto um dia vir a se levantar do “berço esplêndido”, se agigantar em suas riquezas naturais, e justificar a vaga previsão de Stefan Zweig de “país do futuro”.

Estou completando e encerrando[1] – já me adianto anunciar – 8 anos de discreta escrita militante digitrônica no espectro político rotulado de “direita”, espaço frequentado por conservadores nos costumes e, em diferentes medidas, liberais na economia.

Adquiri o hábito de começar o dia vendo mensagens de emeio, e vídeos no zap e iutube. Nestes últimos dias dediquei-me a configurar a opção “não recomendar o canal”[2] em TODOS os canais que noticiam ou comentam política. No zap, saibam todos, passei a ignorar e apagar o que me mandam sobre o tema. Nada contra ninguém, mas tudo contra o conteúdo. A contrapartida é que também deixo de lhes abarrotar a escassa memória com tais irrelevâncias!


Se estou, por um lado, em puro estado de cansaço mental por me envolver nesta nuvem ocidental[3] de completo nonsense, por outro, estou tardiamente reconhecendo e aceitando não passar de um mero palhaço sem graça (ou des/graçado) no picadeiro político, sem significância para ser obstáculo ao processo em curso de desmanche da Nação.

Este reconhecimento fundamenta meu afastamento de quaisquer falas e fatos políticos, pois “é preciso”[4] proteger um estado razoável de sanidade mental.

Quando temos na presidência, um descondenado por corrupção, invocando uma pretensa “soberania brasileira” e, simultaneamente, defender a “urgência de uma governança global”, é porque a lógica foi pro “saco”.

Quando todos os condenados por roubar milhões, digo, bilhões dos contribuintes, têm suas penas ANULADAS[5] e, em sentença inversa, é negada a anistia a cidadãs condenadas a mais de 12 anos de prisão por exercer o direito de protestar, é porque uma tropa de elite neurologicamente perturbada assumiu o phoder, com h.

Quando uma ministra, em suprema hipocrisia, diz que “a censura é proibida constitucionalmente, eticamente, moralmente, e eu diria até espiritualmente“, e, em seguida, contra sua própria sentença de que “o cala-boca já morreu”, vota, sem qualquer rubor[6], a favor de “calar a boca” de 213 milhões de brasileiros, então é porque a moralidade apodreceu, e a putaria se instalou como Lei máxima da República.

E para deixar claro aos desentendidos, se tal decisão do STF não for suficiente, o mesmo sujeito que pediu a um ditador africano para lhe ensinar o segredo de como ficar 40 anos no poder, recentemente fez um pedido especial a seu guru Xi Jinping “para lhe enviar um especialista” com a incumbência de implantar seus métodos de censura por aqui. Isso é soberania lulopetista na veia!


Há muito pouco que possamos fazer além de reservar domingos para manifestar nossa “precisão” nas orlas das praias ou nas avenidas principais de algumas capitais. E não é que juntos não sejamos uma força a ser considerada. É que o mundo contemporâneo instrumentalizou desproporcionalmente “eles” e nós. Há um abismo, como nunca antes, entre os intere$$e$, com cifrões, e as armas das cocoligarquias – corruptas e covardes - locupletadas com a oligarquia dominante no ápice da pirâmide, e nós, os cidadãos fantoches, praticantes ou não de uma inocência hipócrita, crentes de que a Era Digitrônica[7] veio para nos salvar das garras do Leviatã. Como somos convenientemente tolos e crédulos!

Os acontecimentos deste último mês, se foram mais ou menos previsíveis, deixam um pacotão de imprevisibilidades. É evidente a escalada do embate entre forças globais de dentro e de fora do phoder, com h. Nesta corrida furiosa e maluca, ultrapassagens a todo instante. Pilotos psicopaticamente agressivos passam dos limites e tentam jogar o opositor para fora, não da pista, mas do campeonato. Se é imprevisível o dia em que terminará, é previsível um vencedor, aquele único sobrevivente de todos os acidentes mortais inevitáveis. Também é imprevisível seu estado de saúde na chegada e as consequências da ressaca após se embriagar com a Champagne da vitória.

É imprevisível que possa surgir um “azarão”, como no turfe, aquele pangaré em quem ninguém aposta – feito Bolsonaro em 2018 - correndo por fora, atropelando os líderes e vencendo no foto chart? Só quem viver verá!

Tudo é previsível como ação, imprevisível como resultado, neste processo de dobra de apostas num mundo em que não se respeitam mais leis e valores morais. Não que eu esteja defendendo algum valor moral em particular, mas simplesmente apontando que não há mais qualquer valor moral. Só há um valor imoral: o do intere$$e, com cifrões, de quem, em tese, recebeu o poder para exercê-lo, sem “h”, em nome de todos os cidadãos.

Minha imprevisível previsão final é que os fatos presentes têm continuidade previsível, mas ao cabo as consequências são imprevisíveis para a civilização.

Cito, caminhando para o fechamento deste desabafo, alguns pensamentos a que atribuo alguma consistência filosófica.


De AYN RAND (1905/1982. “Moralidade é o julgamento que permite distinguir o certo do errado, é a visão que enxerga a verdade, é a coragem que age com base no que vê, é a dedicação ao que é bom, é a integridade de quem permanece no lado do bem a qualquer preço. Mas onde se encontra isso?” 


De EDMUND BURKE (1729/1897:
A conveniência é a sábia aplicação do saber geral às circunstâncias particulares. O oportunismo é a sua degradação.”


De Aristóteles (-384/-322): “Devemos
disciplinar nossos apetites para que a virtude triunfe sobre o vício.”

E, por fim, de Gertrude Himmelfarb (1922/2019): "A degradação dos valores morais está ameaçando a prosperidade das sociedades e as nossas liberdades individuais básicas. O que significa uma tentativa de normalização dos desvios de caráter.” Isto lhe soa familiar?


Reforço, enfim, meu comprometimento em não falar nem escrever sobre política, políticos, jornalistas e socinistas[8]. Emitir opiniões contra ou a favor. Isto definitivamente só me traz malefícios. E pra você?

Vou ficar com os bate-papos de Paulão e Paulinho sobre temas que considerar de mínima contribuição para “entender o que acontece em nós e à nossa volta”.

Até lá! E fique bem![9]



[1] Me é incompreensível a credulidade de gente instruída que me manda um vídeo do “Paulo Guedes” conclamando o sujeito a depositar 600 reais hoje e daqui um mês, repito, um mês, ter 90 mil reais!!! E isso só para começar!!! E ao ser alertado da fraude, responde com: “Ué, mas o Paulo Guedes não tem credibilidade!!!???”.

[2] A desgraça é que tal “opção”, assim como a de “bloquear” propagandas, não são respeitadas como esperamos que sejam.

[3] Além de sempre restringir minhas alegações ao Ocidente, o lado do mundo majoritariamente cristão e democrático em que vivo, sabemos que o oriente tem vieses diferentes e até mesmo opostos e, portanto, o que em tese vale aqui, não vale por lá.

[4] Para entender as aspas em "precisão", assista, no canal do Paulinho, ao vídeo “Poema da Precisão”.

[5] Há um risco ainda não afastado de que os anistiados venham e requerer o reembolso das quantias devolvidas aos cofres públicos por conta das condenações descondenadas.

[6] Tal "distúrbio" cognitivo da ministra, obviamente, tem por fundamento uma submissão a interesses inconfessos.

[7] Digitrônica – é o termo que criei para referenciar o pacote formado pelas tecnologias digitais e eletrônicas que dominam as relações humanas em nossos dias.

[8] Socinista é outro termo que criei para referenciar o pacote ideológico socialista/comunistas, onde o primeiro é a cama para acolher o segundo.

[9] Uso essa exclamação em tributo a meu neto, Henrique Palladino, que a manifesta sempre como expressão de seu desejo ao se despedir de quem gosta.






segunda-feira, abril 21, 2025

O ALVO ERRADO – TODO PODER É CONCEDIDO

 

Fico nervoso, me agito, quero  dar um grito, me incomodo profundamente quando leio ou ouço um “analista”, ou “articulista”, ou “comentarista”, jornalista ou não - importa apenas que ganhe seu sustento transmitindo informação -, emitindo críticas, opiniões e avaliações sobre causas e consequências de ações de poder como se estas fossem apenas uma característica pessoal, intrínseca à personalidade, à sua natureza. Tal conclusão é absolutamente errônea, apesar de o poder, para ser exercido, precisar partir de alguém com uma base moral que o sustente, caso contrário ele é só um “mané” como todos nós.

É plausível, admissível, aceitável, que o cidadão comum, o ser humano integrante da massa de governados, atribua a um indivíduo a condição de poderoso como um atributo inerente à sua personalidade. No abismo que separa as realidades de informação e conhecimento destes dois, o opressor e oprimido – é disto que se trata o exercício do poder –, atribuir e concentrar o poder em um só indivíduo é a única alternativa à disposição para “enxergar” e justificar o que quer que esteja acontecendo.

Mas um “jornalista”? Um pretenso “especialista”? Não, aí não dá, fica difícil, pelo menos para mim, aceitar. Tenho imenso respeito por vários profissionais que se mantiveram e se mantêm nas trincheiras da resistência, da rebeldia, contra a destruição a que o país está submetido. Não preciso citá-los, nem os que estão aqui, nem os que estão fora, quem acompanha em alguma medida o noticiário político sabe quem são. Mas, exceções raras à parte, eu os critico por manterem o público apartados da realidade do que acontece no poder político atual fazendo acrobacias verborrágicas que, obviamente, servem para proteger o próprio bolso e pescoço. Mas só. Esta é a única razão que encontro, pois expor a realidade do poder é deixado para trás das câmeras 

Ninguém “tem” poder! Fulano não tem poder. Sicrano não é perverso apenas porque é naturalmente perverso. A perversidade, psicopata ou não, por si só não significa poder, apenas aptidão para o poder. A perversidade para se realizar precisa de um instrumento que a possibilite. Nos andares de baixo das sociedades, o poder perverso é concedido pela força física e pelas armas. Nos andares de cima, nos governos, em todos os governos, mas especialmente nos tirânicos, ele é concedido pelos beneficiados da concessão que é dado ao perverso “mais habilidoso”.

Beltrano não tem poder. Ele está no exercício de um poder que lhe foi concedido pelo conjunto de indivíduos e entidades que se beneficiam ou irão se beneficiar das ações, perversas ou não, daquele a quem, na intimidade dos conchavos de pé-de-ouvido, “elegeram” para representá-los.

Portanto, quando se mira no indivíduo, o alvo está errado, não importa seu nome, nem se é tratado de “Excelência”, “Excelentíssimo” ou “Digníssimo” . Não é expondo e combatendo o “representante” que as sociedades podem derrubar o poder arbitrário. Há que se expor publicamente todos os concessores. Há que se arrancar as capas que escondem os reais sustentadores do phoder político, com h. Sim! Porque o poder é legítimo quando objetiva um fim humanamente legítimo, mas absolutamente ilegítimo quando seu fim, o phoder com h, é o esmagamento da vontade, da liberdade e dos direitos intrínsecos à natureza dos seres humanos.

Tenho dito, com base na história da civilização ocidental, que todos os governantes depostos de seus tronos, o foram pelos insatisfeitos de dentro. O motivo é simples. Enquanto a ideologia serve de guarda-chuva para o objetivo comum de chegar e se manter no phoder, com h, os intere$$e$ são sempre particulares, o que, em certo momento, sempre acaba criando um contingente daqueles que, por não serem atendidos em seus intere$$e$, $ua$ demanda$, passam, de amigos do Rei a seus algozes. Isto não significa que os cidadãos não tenham papel neste jogo. A insatisfação popular com as arbitrariedades dos phoderosos é o fundamental combustível que alimenta e justifica a ação dos adversários. O parlamento nem sempre age em nome dos cidadãos, mas sempre há de preferir agir sobre demandas dos eleitores, se elas houverem.

Para que meu leitor não pense que tais palavras habitam apenas a mente deste irrelevante “mané” brasileiro, reproduzo a seguir algumas passagens escritas por Ludwig von Mises, em sua obra “Ação Humana” – uma das mais importantes de sua autoria. Você as encontrará entre as páginas 178 e 181. Ei-las (os grifos são meus):

 

“A sociedade é um produto da ação humana. A ação humana é dirigida por ideologias. Assim, a sociedade e qualquer ordem concreta de assuntos sociais são resultados de ideologias.”

“Então, a definição de poder é a habilidade de acionar as ações de outras pessoas. Aquele que é poderoso deve sua força a uma ideologia. Somente as ideologias podem transmitir ao homem o poder de influenciar as escolhas e a conduta de outras pessoas. Alguém pode se tornar um líder apenas se for apoiado por uma ideologia que torne as outras pessoas tratáveis e complacentes. O poder não é, portanto, algo físico e tangível, mas um fenômeno moral e espiritual. O poder de um rei repousa no reconhecimento da ideologia monárquica por parte de seus súditos.”

“Aquele que usa seu poder para dirigir o estado - o aparato social de coerção e compulsão - é quem governa. (...) A regra é sempre baseada em poder, ou seja, a autoridade para controlar as ações de outras pessoas.”

“É claro que é possível estabelecer um governo sobre a opressão violenta de pessoas relutantes. É típico do estado e do governo que eles apliquem a coerção violenta ou a sua ameaça contra quem não está preparado para ceder voluntariamente. No entanto, essa opressão violenta não é menos fundamentada no poder ideológico. Quem queira aplicar violência precisa da cooperação voluntária de algumas pessoas. Um indivíduo inteiramente dependente de si mesmo nunca pode governar apenas por meio da violência física. Ele precisa do apoio ideológico de um grupo para subjugar outros grupos. O tirano deve ter um séquito de partidários que obedecem às suas ordens por vontade própria. Essa obediência espontânea lhe fornece o aparato necessário para a Conquista de outras pessoas. Se ele consegue ou não conquistar sua influência, isso depende da relação numérica dos 2 grupos, daqueles que o apoiam voluntariamente e daqueles a quem ele controla por submissão. Embora um tirando possa por um tempo governar através de uma minoria, caso esta minoria esteja armada e a maioria não, a longo prazo a minoria pode dominar a maioria. Os oprimidos irão rebelar-se e abandonarão o jugo da tirania.

“Governantes que não reconheceram este princípio de governo e confiando na suposta investida irresistível de suas tropas armadas, desdenharam o espírito e as ideias, no fim, foram derrubados pelos ataques de seus adversários.”

“Aquele que interpreta o poder como algo físico ou ‘real’ a ser levado adiante, e considera a ação violenta como a real base de governo, vê as condições do estreito ponto de vista dos oficiais subalternos encarregados das seções de um exército, ou força policial.”

O chefe de governo deve visar a preservação do moral das forças armadas e da lealdade do resto da população, pois esses fatores morais são os únicos elementos reais sobre os quais repousa a continuidade de seu domínio. Seu poder diminui caso a ideologia que o sustenta perca as forças.

“A opinião pública de um país pode ser ideologicamente dividida, de tal forma que nenhum grupo seja forte o bastante para estabelecer o governo durável.”

 

Terminando. Se você quer entender o que acontece à sua volta, se pergunte sempre: que interesses estão sendo protegidos? No âmbito da alta política provavelmente você não conseguirá ter a resposta, mas tenha a absoluta certeza de que intere$$es particulares estão sendo protegidos, mesmo que isto signifique a perda de seus direitos “inalienáveis”.

Paulo Vogel

Neste meio, nós somos a mensagem.

Abril/25

No Youtube assista o canal PODPAULOS: @paulinhooalteregodepaulao

 

quinta-feira, março 27, 2025

O AUTOCENTRISMO ALTRUÍSTA


No texto “O Altruísmo Egoísta” tratei sobre minha visão de que toda ação altruísta é, na realidade, um egoísmo disfarçado, um altruísmo de máscara, um falso altruísmo.

O egoísmo é um conceito moral, é uma avaliação que fazemos sobre as ações dos outros com base em normas culturais que visam regular nosso comportamento social.

Um egoísta, nesta visão, age exclusivamente em seu benefício, sem considerar e respeitar o direito e os interesses de outros à sua volta. Considera que a pessoa age sob o lema “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Mas, neste rótulo, há, quase sempre, a presença de dois ingredientes:  preconceito e inveja. O primeiro, devido à ideia de que o benefício da ação egoísta não deveria ser dado "àquele tipo” de indivíduo. O segundo, devido à percepção de “porque ele e não eu?”.

Descarto, portanto, que o egoísmo seja uma característica imanente ao ser humano. Considero uma aquisição cultural à medida em que é considerado como uma pretensa necessidade para a conquista de melhor posição na escalada social no mundo civilizado.

Tenho a convicção, esta sim, de que só agimos no interesse da proteção à nossa existência como princípio primeiro e maior, o que vai além da mera subsistência do organismo.

Fui passar alguns dias com a família de meu filho que mora no exterior. Não lembro do motivo, mas em um dos papos com meu neto de 14 anos, lhe disse que o interesse próprio é o que move as pessoas. Recebi, do alto de sua inocente arrogância adolescente, um sorrisinho e um olhar que diziam: “esse meu vô é meio maluquinho, ele diz cada coisa!”. Percebi e pensei: “Hum, tenho que lhe provar o que disse”. No dia anterior, motivado pela reclamação da mãe que me dissera, com exagero, que os dois irmãos “não ajudavam em nada”, eu provocara meu neto com o chiste “o pior cego é o que não vê a louça suja na pia”. A minha “inocente” provocação surtiu efeito, pois no dia seguinte o peguei lavando toda a louça do almoço. Fiquei quieto e quando surgiu o momento adequado, lhe perguntei:

- “E aí Vinny, por que você lavou a louça?”.

- Ah! Vô, porque eu quis!

- Ah! É! E por que você quis?

- Pra minha mãe não reclamar.

- Ah! É! Então foi por interesse de agradar sua mãe! Entendi.

Em lugar do sorrisinho, recebi um sorrisão do tipo “Hehe, meu avô me pegou nessa!”. E nos dias seguintes conversamos sobre o papel do “interesse” próprio nas decisões que tomamos em nosso dia a dia.

Isto não é egoísmo, é autocentrismo. É ter como guia da tomada de decisão, das mais simples às mais complexas, o interesse próprio, interesse que está basicamente subordinado à proteção de nossa existência física e, principalmente, mental. Enquanto a riqueza trás conforto e redução do desgaste físico, é a percepção de que nossa existência está protegida, a condição e razão para nos sentirmos bem[1].

Enquanto no egoísmo o mote da ação é o retorno para si independente do outro, no autocentrismo o mote é a satisfação espiritual, exatamente por levar em consideração a existência do outro.

O autocentrismo é o incentivo à generosidade (altruísmo). Enquanto o egoísta desconsidera qualquer outro, pois se basta, o autocentrado TEM QUE considerar o outro, caso contrário ele falha em seu objetivo de sentir-se bem, de estar bem com sua existência espiritual.

O conceito de egoísmo é moral e está sob o âmbito da sociologia. O autocentrismo faz parte do comportamento ético[2] e, portanto, da antropologia, e indo mais fundo, da biologia, do estudo da natureza humana.

A Sociologia, cujo propósito é entender o comportamento humano no meio social, só será útil quando se concentrar no primeiro objetivo da vida: a proteção à sua estabilidade existencial.

De resto, é só discurso de intenção moralista.

Paulo Vogel

Mar/25

Neste meio, eu e você, somos a mensagem.


[1] Evito os termos “feliz” e “felicidade” por serem conceitos subordinados a valores pessoais e difíceis de serem definidos.

[2] No texto “Há diferença entre moral e ética?” exploro a questão.


quarta-feira, março 19, 2025

O LÍDER POSSÍVEL, NUMA GUERRA SEM LÓGICA

 

O autoexílio[1] de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, me fez retroagir no tempo em busca do fundamento de tal decisão, e, forçosamente fui levado a dar uma olhada nas decisões de Jair Bolsonaro no exercício da Presidência da República e recordar avaliações que fiz sobre algumas delas desde 2018.

Minha primeira apreensão surgiu em 2018, logo no período de transição, quando publiquei “Carta Aberta ao Presidente Eleito” onde escrevi:

“Não queremos o retorno de um militarismo no comando do país. Militares, por essência e obrigação, são subordinados a uma hierarquia rígida que não admite processos democráticos que levam em conta o jogo de forças contrárias. É fundamental que assim seja para o cumprimento do papel das Forças Armadas como prevê a Constituição. Admitir um militar da reserva como seu vice, é plenamente justo e aceito por todos como ficou provado. Admitir um General da ativa como Ministro da Defesa, é sensato e correto. Mas é aí que a participação de militares no poder deve terminar, (...).”

Considerando que o âmbito de suas relações pessoais era muito limitado, o que não lhe dava muitas alternativas para compor um entorno de confiança, talvez eu tenha sido simplista demais naquela análise.

Hoje, depois de 7 anos, e consequente do dito acima, posso enxergar 2 razões para Bolsonaro ter se cercado de militares:

1.    Sua história como deputado em 7 mandatos, calcada na defesa dos interesses das FFAA. Sua sonhada estratégia foi a de receber dos militares uma retribuição na forma de proteção a seu mandato, pois sua eleição, não imaginada pelo PT, não sairia “barata”  no que dependesse de todos os quadros da esquerda a serem defenestrados do poder por ele após a posse e jogados no papel de oposição como prêmio de consolação.

Não era isso que estava na alça de mira dos Generais, Marechais e Brigadeiros. O objetivo deles era tão somente uma aposentadoria tranquila, Bolsonaro foi útil até enquanto eles estavam na carreira. Agora que chegaram...

2.    Seu currículo, como deputado, é mais qualificado que os de 90% dos parlamentares. Ao longo dos mandatos, foi além de marcar presença para garantir as benesses, fez seus discursos, proposições, críticas, acordos e esteve à frente de umas 3 ou 4 comissões. Nunca se mostrou um líder, pois, em suas 4 tentativas de assumir a presidência da Câmara, foi mais do que derrotado, foi desconsiderado - recebeu menos de meia dúzia de votos. Isto não é um demérito, é a constatação de que o combustível da liderança não está em seu sangue.

Começou, portanto, com seu projeto de governança com falhas nos alicerces.

Minha segunda apreensão, e aí uma comprovação das consequências imaginadas na primeira, veio, em 24 de abril de 2020, a nomeação de Ramagem como Diretor-Geral da Polícia Federal,  em consequência da saída de Mauricio Valeixo, demissão que iniciara uma crise de governo que ainda levou de roldão a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Um recuo inexplicável quando tinha a população e a Constituição a seu favor, não fosse minha certeza quanto a pressões recebidas de seu círculo verde-oliva, diria que beirou a covardia. Mais tarde ouvi um buchicho, não mais que um buchicho, que pouco depois da posse, houvera uma consulta de ministros do STF aos integrantes do Alto Comando do Exército, sobre se eles teriam objeção quanto a iniciarem uma reação objetivando a retirada de Bolsonaro do poder. Teriam recebido um "segue em frente", dizem as más línguas.

Todo poder é uma concessão de representatividade que outros lhe conferem para agir em nome de seus (deles) interesses. Não é que Bolsonaro não soubesse disso. Ele não percebeu que depois de 28 anos - tempo de seus 7 mandatos - os interesses daqueles que ele defendera tinham mudado, tinham "evoluído". Eles agora só queriam "botar o pijama" e garantir uma aposentadoria "digna". Se todo poder é delegado, o consentimento para governar, nestas circunstâncias, não era possível de lhe ser dado.

De qualquer modo, mais pra cá ou mais pra lá, ali acabou o governo, e a prova foi a percepção pelo "deep state" de que o Presidente não tinha a necessária delegação de poder para exercer o mandato recebido por uma maioria de eleitores.

O que isto me prova? Jair Messias Bolsonaro, de "líder político", só detém a qualificação de "político", e político experiente, diga-se, comprovado em 7 concursos. De líder capaz de uma empreitada de transformações radicais como ele anunciou e a maioria da sociedade esperava, nem cheiro. Sem chance.

Para obter a representatividade delegada, um pretendente a liderar uma maioria em marcha acelerada para o poder executivo, tem que ter, no mínimo, em minha opinião, algumas características necessárias que Bolsonaro não tem ou não a tem na intensidade exigida:

1. Ousadia para propor caminhos novos e bandeira para comunicar. Liderar para o mesmo? Não tem sentido.

2. Convicção de suas propostas e  compromisso em efetivá-las.

3. Coragem e ânimo para enfrentar e derrotar os inimigos.

4. Abnegação e compromisso. Isto significa prioridade maior,  acima de família, amigos, carreira profissional e lazer.

Bolsonaro não tem, em sua natureza, tal conjunto. Ele almejou a presidência pelo inconformismo, pela vontade e desejo de realizar, em vez de pelo poder de realizar. Entre desejo e poder, estão, ou não estão, as circunstâncias para realizar.

Bolsonaro foi – e ainda é – o líder possível nesta guerra sem lógica - porque é contra os cidadãos brasileiros -, e, se já lógica, esta é apenas q do poder pelo phoder. E para esta, ele não tem cacoete de líder. Desembainhar a espada e bradar “liberdade ou morte” não é uma alternativa de um capitão. Sua opção, por personalidade, é participar do jogo como coadjuvante, como ajudante de ordens, jamais como General de Campo.

Se meu Leitor pensar sobre a justificativa de convocação só para o Rio de Janeiro, desse 16 de março passado, entenderá que a decisão de restrição da participação popular em todo o  Brasil, se deveu a seu medo de perder o controle e correr o risco de dar mais esdrúxulos e insanos argumentos ao Iluminado Supremo para realizar o tão almejado desejo de jogá-lo numa cela, mesmo que não seja tão fria. O resultado, infelizmente para nós, apoiadores e/ou admiradores e/ou seguidores deste líder possível, é o de aceitarmos a realidade inspirada na previsão de Churchill a Chamberlain: Entre a confabulação e a guerra, você escolheu confabular, e o pior, você terá a guerra. 


EDUARDO BOLSONARO

Não preciso me alongar sobre ele e meu Leitor já vai ver por quê.

Eu acredito na herança genética, em DNA, na experiência própria e única, tanto quanto nas circunstâncias.

Eduardo é filho de Bolsonaro e, como tal, tem metade de seus genes do DNA paterno. Seu sangue é o mesmo de seu pai, não tem vestígio de liderança. Eduardo, em minha humilde opinião, é um brilhante parlamentar. Se não o melhor, está entre os melhores. Mas sua decisão, independente de fatos e conversas de bastidores, entraram em sua equação para a tomada da decisão de se exilar, seguiu a mesma lógica (interpretação minha): saio do país para, tal como meu pai que saiu da presidência, para trabalhar para resgatar o Brasil de volta à realidade de uma República verdadeiramente Democrática.

Este é o quadro que temos: Jair no Brasil e Eduardo do exterior. O resultado efetivo de suas trajetórias futuras?

Quem viver, verá!


Paulo Vogel

Neste meio, eu sou a mensagem.

Mar/25



[1] "O exílio voluntário (ou autoexílio) é frequentemente descrito como uma forma de protesto por parte da pessoa que o reivindica, para evitar perseguição (...), ou isolar-se para poder dedicar tempo a uma atividade específica." Fonte: IA do Google. Estas duas razões foram expostas por ele em seu já celebre comunicado em vídeo.