Hoje não tem texto meu, pois
organizando arquivos no computador, encontrei "Extratos de Revista Piauí
2018" contendo notas extraídas de artigos publicados naquele ano e um de
jan/2019 (época em que ainda era uma publicação que valia a pena ler). Todos os
artigos contêm reflexões que podem ajudar a entender melhor com o que estamos
convivendo e fazer um exercício sobre quais poderão vir a ser as consequências
para nossa vida em futuro próximo.
Chamo atenção para as notas
do artigo "O pior está por vir", de Anne Applebaum, uma jornalista e
historiadora americana. Ela conta algumas coisas sobre política no período em
que viveu na Polônia.
O último artigo, de
jan/2019, "Genocídio no Brasil", é do jornalista inglês Norman
Lewis. É uma reportagem publicada no
Sunday Times Magazine em 1969, e depois publicado no livro A View of the World,
pela editora Eland. Não o deixei por último à toa. Ele é a comprovação
categórica da possível natureza desumana que podemos incorporar. Ao reler minhas
notas um frio percorrendo a espinha foi inevitável. Ao tentarmos descobrir as causas de tanta
desumanidade em alguns humanos (desumanidade esta presente em toda a história
de nossa civilização), somos levados a refletir sobre quais podem ser as razões
de muitos de nós ser levado a agir com tamanha agressividade nas redes sociais.
Eu NÃO recomendo a leitura por gente mais sensível.
Mas fora este último, creio
que o Leitor vai poder viajar em reflexões relevantes.
Bom proveito!
DEZEMBRO/18
Artigo: El Salvador – a respeito da força e da fragilidade
Por: João Moreira Salles
Paul Ricoeur, pensador
francês, em “O único e o Singular”: “Onde há poder, há fragilidade. E onde há fragilidade,
há responsabilidade. Quanto a mim, diria mesmo que o objeto da responsabilidade
é o frágil, o perecível que nos solicita, porque o frágil está, de algum modo,
confiado à nossa guarda, entregue ao nosso cuidado.”
A desatenção é a primeira
etapa da violência.
Alan Jacobs: “Nós que vemos
o outro nas garras da aflição, nós somos obrigados, primeiro e acima de tudo, a prestar atenção”.
Ainda Jacobs: “Na ausência
de empatia vem o descuido (na melhor hipótese) ou a selvageria (na pior).”
E: “A tentação do excesso é
que é quase irresistível.”
Submetidos às tensões que o
retiram da morada em que se sentiria amparado, não resta ao indivíduo
desenraizado senão pensar segundo os termos de que dispõe, ou seja, os da
violência e da força.
De um velho reitor da
Universidade de Chicago: se êxito for a medida da justiça, o justo estará sempre
do lado de quem tiver mais batalhões.
NOVEMBRO/18
Artigo: O Pior Está Por Vir
Por: Anne Applebaum
(Americana, jornalista e
historiadora,
casada com diplomata polonês)
Naquele momento (celebração
de ano novo dez/1999), com a Polônia na iminência de se integrar ao Ocidente,
tinha-se a impressão de que torcíamos todos pelo mesmo time. Concordávamos
sobre a democracia, o caminho para a prosperidade, o rumo que as coisas estavam
tomando.
Aquele momento passou.
Decorridas quase duas décadas, cheguei a mudar de calçada para evitar algumas
das pessoas que celebravam o ano 2000. por sua vez, elas não só se recusavam a
entrar na minha casa como tinham vergonha de admitir que um dia a frequentaram.
Na verdade, cerca de metade dos convidados nunca mais falaria com a outra
metade.
Dadas as devidas
circunstâncias, qualquer sociedade pode se voltar contra a democracia. Alias, a
julgar pela história, todas as sociedades acabarão por fazê-lo.
Duas décadas atrás,
diferentes interpretações de “Polônia” também já deviam estar presentes, à
espera do momento de vir à tona, conforme as circunstâncias e em razão de
ambições pessoais.
A quem cabe definir uma
nação? E a quem, por conseguinte, cabe conduzir uma nação?
Monarquia, tirania,
oligarquia, democracia: tudo isso era familiar a Aristóteles, há mais de 2 mil
anos. Mas o regime antiliberal do partido único, ora encontrado em todo canto
do mundo – considere-se a China, a Venezuela, o Zimbábue -. foi pela primeira
vez desenvolvido por Lênin, na Rússia, a partir de 1917.
[Lênin será lembrado] não
por suas convicções marxistas, mas por ter inventado esta persistente forma de
organização política. Ela é o modelo pelo qual se pautam muitos dos autocratas
hoje em ascensão no mundo.
Diferente do marxismo, o
regime leninista de partido único não é uma filosofia, é um mecanismo para
deter o poder. Ele funciona porque define claramente quem vem a ser a elite – a
elite política, a elite cultura, a elite financeira.
O regime unipartidário
bolchevique não era apenas antidemocrático: era também não competitivo e não
meritocrático. Vagas nas universidades,
empregos no funcionalismo público e postos no governo e na indústria não cabiam
aos mais diligentes ou aos mais capazes: cabiam aos mais leiais.
Como escreveu Hanna Arendt
nos idos da década de 40, o pior tipo de regime unipartidário “invariavelmente
substitui todo talento, quaisquer que sejam suas simpatias, pelos loucos e
insensatos cuja falta de inteligência e criatividade é ainda a melhor garantia
de lealdade”.
Ressentimento, inveja e,
sobretudo, a crença na injustiça do “sistema” são sentimentos importantes entre
os intelectuais da direita polaca.
A experiência fez com que
Jaroslaw se desse conta de que não gostava de política, em especial da política
do ressentimento: “Eu entendi o que era de fato fazer política: promover
intrigas terríveis, vasculhar sujeira, fazer campanhas difamatórias.”
O apelo emocional de uma
teoria conspiratória está em sua simplicidade. Ao explicar fenômenos complexos,
esclarecer acasos e acidentes, ela propicia a sensação gratificante de se ter
acesso privilegiado ou especial à verdade.
O apelo do autoritarismo é
eterno.
O escritor venezuelano
Moisés Naím visitou Varsóvia poucos meses depois que o Lei e Justiça [partido
de direita] chegou ao poder. Pediu-me que descrevesse os novos dirigentes
polacos: Pessoalmente, como eram? Enumerei alguns adjetivos: “raivosos”,
“vingativos”, “rancorosos”. “Parecem”, ele disse, “ser iguaizinhos aos
chavistas.”
Mais cedo ou mais tarde os
perdedores contestarão o mérito da competição em si.
O regime autoritário ou
mesmo o semi-autoritário – o regime de partido único, antiliberal - propiciam
essa esperança: de que a nação será conduzida pelas melhores pessoas, as que
merecem mandar, os quadros do partido, os que acreditam na Mentira de Médio
Porte. Para tanto pode ser preciso subjugar a democracia, corromper a atividade
empresarial ou arrasar o sistema judiciário. Mas nada disso é impossível para
quem julga estar entre os que merecem mandar.
OUTUBRO/18
Artigo: Minha Fraqueza – Anotações desordenadas sobre a condição
feminina
Por: Margarita Garcia Robayo
A subjetividade existe para
além da consciência que possamos ter dela.
Artigo: Uma viagem de psilocibina – Eu tinha decidido me entregar a
esse grande cogumelo
Por: Michael Pollan
Eu tinha no meu notebook um
vídeo curto de uma mascara girando, usado num teste psicológico chamado ilusão
da mascara côncava. Enquanto a mascara gira no espaço, o lado convexo se move
para revelar o verso côncavo, e algo incrível acontece: a mascara oca parece
saltar para se tornar convexa de novo. Esse é um truque produzido pela nossa
mente, que presume que todo rosto é convexo, e então automaticamente corrige o
que parece um erro – a menos que, como um neurocientista me disse, você esteja
sob a influência de uma substancia psicodélica.
SETEMBRO/18
Artigo: Arquitetura do nevoeiro – A sobreposição explosiva de opacidade e
nitidez, incerteza e convicção, no tempo da “pós-verdade”
Por: Guilherme Wisnik
Além de ser um riquíssimo
espaço de pesquisa e de conhecimento em potencial, o ciberespaço é também –
como meio de comunicação e integração – um “lugar” no qual as pessoas expõem
muito menos dúvidas do que certezas.
Progressivamente mapeado e
decodificado, o mundo se oferece a nós em imagens cada vez mais nítidas, nas
quais as dúvidas e ambiguidades, ou zonas de sobras e incertezas, vão sendo
apagadas.
De um lado, a opacidade no que diz respeito à compreensão geral das
coisas e à nossa capacidade de nos situarmos individual e coletivamente em um
sistema-mundo globalizado que se tornou impalpável e especializado de mais. De
outro, a nitidez excessiva no trato mais objetivo e cotidiano com as
informações, promovida pelo aumento de acessibilidade, da proximidade e da ubiquidade. (...) É dessa imbricação estranha, explosiva e aparentemente
contraditória entre nublamento e nitidez que surge o fenômeno da
“pós-verdade”, com as fake news e a apropriação de formas discursivas da
esquerda por grupos de direita.
Busca-se uma espécie de
supernitidez do involuntário, da revelação inconsciente. E não seria essa a
ilusão última trazida pelo árbitro assistente de vídeo (VAR) na Copa do mundo
de 2018? A crença cientificista, de fundo messiânico, em uma verdade ultima a
ser revelada por meio da aparelhagem-oráculo, redimindo o jogo de todas as ambiguidades, assim como das imperfeições humanas do arbitro?
Ao registrar o mundo com
potentes lupas e microfones, a aparelhagem contemporânea consegue trazer à tona
camadas antes ocultas da realidade, expondo-as como verdades finalmente
reveladas.
Georges Bataille: “É sob a
forma de catedrais e de palácios que a Igreja e o Estado se dirigem e impõem
silencio às multidões.”
As informações têm que ser
mantidas em constante movimento, pois os atributos que constituem a sua razão
de ser e lhe conferem valor são a circulação e o intercambio. (...) é a
informação que gera preço. O que, por sua vez, cria novas decisões de compra e,
portanto, mais informação circulando de forma cada vez mais ágil.
Coletivo de design holandês
Metahaven: “O enorme sucesso da nuvem é fornecer todas as coisas ao mesmo
tempo.”
O que nos faz pensar que as
raízes anarcolibertárias da internet estão sendo em grande medida cooptadas e
invertidas por essa centralizada arquitetura de poder, baseada em sistemas
fechados e caixas-pretas, que reprime, como argumenta Jonathan Zittrain, a
capacidade generativa e inovadora da web.
Quantidades incalculáveis de
mensagens e arquivos anexos são armazenados na nuvem a fundo perdido, por tempo
indeterminado, ocupando “espaços” cada vez maiores e mais pesados. Toneladas de
fotos de férias passadas, que nunca mais serão vistas por quem as fez nem por
ninguém ficam guardadas, flutuando num futuro do pretérito imponderável, que
constitui um lixo digital problemático em nossa sociedade arquivística.
O arquiteto Ram Koolhaas
criou o conceito de junkspace como definição cáustica do mundo urbano atual. O
junkspace, “é o resíduo que a humanidade deixa sobre o planeta”. Pois “o
produto construído [...] da modernização não é a arquitetura moderna, mas antes
o junkspace”. Isto é, aquilo que “sobra depois que a modernização terminou seu
curso ou, mais precisamente, o que coagula enquanto a modernização está em
progresso, seu efeito colateral”.
O junkspace é a forma física
assumida por um mundo que desfez as fronteiras entre trabalho e lazer, ou entre
o escritório e a vida doméstica, congelando-se numa espécie de sexta-feira
informal interminável. (...) É em nome do acesso permanente à informação que
aceitamos ser despojados de toa a nossa privacidade, tornando-nos cúmplices no
rastreio das impressões digitais deixadas por nossas transações.
[Estamos em um] universo de
fingimento e ficção baseado na naturalização de realidades ilusórias, a chamada
“hipernormalização”. Exemplos atuais disso são as fake news e os ambientes de
bolhas das redes sociais, nos quais se reúnem pessoas de opiniões coincidentes,
que têm a falsa impressão de que seus ideais refletem a realidade da maioria da
sociedade.
AGOSTO/18
Artigo: O Anjo Redentor (Doutor em Ciências Sociais pela PUC/RJ)
Por: Antonio Engelke
Padilha: “As ciências sociais não dispõem de modelos
teóricos que incorporem, ao mesmo tempo, variáveis políticas, econômicas,
tecnológicas, geográficas, climáticas e culturais. E é obvio que qualquer
dessas variáveis pode alterar drasticamente a evolução de uma sociedade.
Processos sociais são, pura e simplesmente, complexos demais para serem
modelados.” (...) “A verdade é que todos os grandes dogmas da esquerda e da
direita são mitos.”
Dizer que a espoliação
sistemática da Petrobras tem a mesma origem e características que a “cervejinha do guarda”, reduzindo ambos
os fenômenos a uma essência comum que os constituiria, não nos ajuda a
compreender nem a dinâmica do saque à estatal, nem a do drible à multa de
transito.
Foi o regime militar que deu
força econômica e política às construtoras, pois os contratos recebidos
permitiram às empreiteiras tornarem-se multinacionais e ampliarem suas
atividades para outros ramos.
Mas, se o mecanismo determina
em última instância o modo de funcionamento da política, ficamos sem ter como
explicar os muitos avanços de nossa
democracia. Segundo a lógica de Padilha, iniciativas como a Lei de
Responsabilidade Fiscal, a expansão da Controladoria-Geral da União ou a
autonomia funcional do Ministério Público só poderiam ser deslizes ou
cochiladas eventuais do mecanismo.
[Ele defende um] processo constante de aperfeiçoamento de
arranjos regulatórios.
O filme veio saciar os anseios vingativos de uma
população historicamente avessa aos direitos humanos, estressada pela
violência cotidiana e, por isso, predisposta a aplaudir uma autoridade vista
como impiedosa e incorruptível.
[Ele atribui a Tropa de
Elite a intenção de condenar] a própria atividade política, vista como o
inimigo cuja eliminação possibilitaria o estabelecimento de uma ordem social
pacificada.
A obra de Padilha pode ser
lida como uma das muitas respostas
que vêm ganhando força em face da sensação de falência da representação
democrática – populismo xenófobo de direita, populismo estatizante de esquerda,
fascismos, anarcocapitalismo etc.
Narrativa simbólica que é, o mito político
coloca em suspenso o problema da verdade.
(...) O mito político confere um sentido às circunstâncias que envolvem
os indivíduos.
O mito convence justamente
porque não aparece como discurso racional de persuasão.
Freud observa que o vínculo
entre o indivíduo e o líder é de “enamoramento”. (...) O sujeito admira não
tanto o líder em si, mas a projeção de sua imagem, idealizada, livre de
qualquer desvio ou impureza.
O recalque em jogo é o do fantasma da servidão voluntária:
narrativa mítica que permite ao indivíduo abandonar a própria autonomia em
favor do Redentor, mas sem experimentar isso como submissão opressiva ou alienante.
A servidão voluntária atinge
o sentimento de democracia, a democracia como uma forma de vida, na medida em
que nega seus pressupostos de autonomia e participação popular.
Moro (ao lado de Lula) é
atualmente a encarnação mais poderosa do mito do Redentor, razão pela qual as
contradições de seus atos não despertam muito questionamento na esfera pública.
Não há registro de cruzada punitivista que, em nome da luta contra a
corrupção, tenha sido bem-sucedida e feito terra arrasada do jogo político.
Todo discurso sobre redenção
é também um discurso sobre a fragilidade da condição humana.
JUNHO/18
Artigo: Junho, Ano V
Por: Marcos Nobre
O que ocorre atualmente no
mundo é um ajuste político global. Movimentos regressivos como os que vemos
atualmente são tentativas de controlar mudanças de fundo, que são as que mais
resistem ao controle.
Uma das maneiras de os
sistemas políticos manterem o controle da transição é dando inicio a guerras,
ditaduras e experiências neofascistas.
Uma das formas da convivência
conflituosa é a que poderia ser caracterizada na fórmula adversários-parceiros.
Em sua luta pela
sobrevivência, os sistemas políticos construíram uma estratégia sólida de
chantagem: fundiram-se aos Estados nacionais. (...) Pretendem apagar qualquer
diferença entre Estado, governo e Parlamento. (...) Só que, com a rejeição
generalizada aos sistemas políticos tal como eles funcionam, essa simbiose
resultou até agora em um abraço de afogados, em uma crise de legitimidade da
ação do Estado.
Quem se beneficia direta e
indiretamente de políticas públicas decisivas para manter sua posição social
não vê nenhuma contradição em malhar o mesmo Estado de cuja ação se beneficia.
A ideia de uma renda básica
universal, até pouco tempo debatida somente em círculos acadêmicos restritos,
seja agora parte da agenda internacional.
Não haverá rede de proteção
para todo mundo, não haverá cidadania para todo mundo.
A democracia não se
democratizou, mas durou tempo suficiente para fazer surgir na sociedade
divisões antes reprimidas ou mantidas invisíveis.
Nação, população e território deixaram de coincidir no imaginário
político. Cada grupo tem a sua nação, incompatível com a nação do grupo
vizinho.
[Esta] Será, portanto, uma
eleição em que vão se conjugar a rejeição generalizada e difusa ao sistema
político com a blindagem desse mesmo sistema político contra essa rejeição. Do
lado do sistema político, será uma eleição que concede grande vantagem às
maquinas partidárias. Do lado do eleitorado, tende a ser uma eleição com altos
índices de abstenção e de voto brancos e nulos. Da parte do sistema político,
tende a ser uma eleição com baixas taxas de renovação efetiva de
representantes.
A cúpula do sistema político
parece convencida de que alguma mudança de relevo é necessária, e apenas
pretende que, dentro do possível, sejam os mesmos personagens da atual política
que façam a mudança.
Artigo: A Nova Memória Coletiva
Por: José Roberto de Toledo
A praticidade matou a
privacidade, e vai continuar matando.
Quanto mais tecnologicamente
prática a vida se torna, menos privada ela é. Pergunte ao seu celular.
Artigo: O Grau Zero da Linguagem
Por Salman Rushdie
A passagem do tempo muitas
vezes altera o significado de um fato. À época do Império Britânico, a revolta
militar de 1857 na Índia ficou conhecida como “motim indiano” (...). Hoje, os
historiadores indianos se referem ao acontecimento como uma “revolta” (...). A
história não é escrita na pedra. O passado é constantemente revisado, em
consonância com os pontos de vista do presente.
Em toda a obra de Jane
Austen, as Guerras Napoleônicas mal são mencionadas; na obra imensa de Charles
Dickens, a existência do Império Britânico só é reconhecida de passagem.
Como resistir à erosão da
aceitação pública até mesmo de “fatos básicos”, fatos científicos e comprovados
sobre (por exemplo) as mudanças climáticas e a vacinação infantil?
POESIA
Autor: Abbas Kiarostami
(1940-2016)
Na tua ausência
converso
contigo,
na tua presença
converso comigo.
Hesitante
estou numa encruzilhada,
o único caminho que conheço
é o caminho da volta.
Aos olhos dos pássaros
o ocidente
é onde o sol se põe
o oriente
onde o sol nasce,
apenas isso.
MAIO/18
Artigo: O Herdeiro (sobre Guilherme Boulos)
Por: Fabio Victor
[Para o MTST] Só tem direito
a pleitear moradia quem participa dos atos até o fim. A prática consta no
regimento interno do MTST, segundo o qual “o critério principal para a
conquista de moradia é a participação nas lutas e assembleias”.
Artigo: A guerra do PCC
Autor: Allan de Abreu
A facção proibiu o consumo
de crack nos presídios, e passou a auxiliar os detentos “batizados”, chamados
de “irmãos”, com advogados e cestas básicas para os familiares. A renda vinha
do crime: o controle da compra e venda de drogas dentro dos presídios e o
patrocínio de assaltos e seqüestros fora deles, sem contar rifas e uma taxa
mensal, que atualmente é de 950 reais apelidada de “cebola”, que todos os
filiados são obrigados a pagar.
[O valor do auxílio reclusão que nós contribuintes pagamos é hoje
(ago/18) de R$ 1.3189,18 – é mais de 30% que o salário mínimo, atualmente de R$
954,00!!!!]
O PCC (...) está infiltrado
nas instituições do Estado (há dois anos, por exemplo, um membro do PCC foi
acolhido no Condepe, o conselho de defesa dos direitos humanos de São Paulo).
Artigo: Histórias da Rússia – Uma viagem pelo país da revolução
bolchevique cem anos depois
Por: Karl Ove Kanusgard
Karl pergunta: Já se
passaram 100 anos desde a revolução. O que isso significa para vocês?
- Não damos bola para isso.
Foram 100 anos sem Deus. Puseram abaixo todas as igrejas. Agora elas estão
sendo reconstruídas e a gente pode ir à igreja sem medo.
O que fez você se voltar
para a fé?
- Perguntei a mim mesma o
que poderia fazer por ele depois da morte de meu pai. E, nos ensinamentos do
islã, lê-se claramente: você deve dar esmolas aos pobres, fazer a peregrinação
a Meca e sacrificar um bode.
Em Varsóvia, os edifícios
destruídos na Segunda Guerra Mundial foram substituídos por réplicas
imaculadas. (...) O velho não era velho, o novo não era novo. Onde estávamos
então?
Uma história reina soberana,
e todo e qualquer desvio em relação a ela é proibido. Foi assim à época dos
czares, que censuravam livros e jornais; foi assim também sob Lênin; e assim é
hoje ainda – na Rússia, jornalistas são presos regularmente e, por vezes,
assassinados, sem mais.
As pessoas têm um mecanismo
que as impede de falar sobre experiências ruins e as faz relutantes quando se
trata de remexer no passado. (...) Nossa
identidade é moldada por histórias, histórias sobre nossa própria história,
sobre a história de nossa família, sobre a
história de nosso povo ou de nosso país.
Serguei Lebedev (Jornalista
e romancista): A cada ano tentam reduzir a importância de 1917.
fazem isso porque, em sua versão ideal dos acontecimentos, não houve revolução!
Estão tentando estabelecer um vínculo
ininterrupto entre os czares e a Rússia de Stálin. De acordo com a narrativa atual, espiões estrangeiros e
traidores nos provocaram a matar uns aos outros 100 anos atrás. Isso não pode
acontecer de novo. Portanto, temos que
nos unir; portanto, precisamos seguir a bandeira de Putin; portanto,
temos que sacrificar os direitos civis, porque não pode acontecer de novo. Em
linhas gerais, é isso.
Lebedev: Mas se você quiser
entender o que aconteceu neste país nas décadas de 20 3 30, não pode ignorar a
violência e os horrores dos cinco anos entre 1917 e 1921. não vai conseguir
entender por que as pessoas estavam tão dispostas a matar umas às outras. Tem
havido uma espécie de guerra pela
memória aqui na Rússia, uma guerra em que se disputa o que deve ser lembrado ou
esquecidos.
Poucas coisas são mais belas
que a esperança vã.
JAN/19
Artigo: Genocídio no Brasil – Em reportagem de 1969, o extermínio sem
fim dos índios no Brasil.
Autor: Norman Lewis,
jornalista inglês.
Jesuíta missionário José de
Anchieta: “Não há melhor pregação do que a espada e a vara de ferro.”
Com a invenção do automóvel
e do pneu de borracha (...) Manaus estava de volta aos negócios
instantaneamente convertida em uma Gomorra tropical. (...) Nesse período
grassavam orgias babilônicas em que as cortesãs tomavam banhos semipúblicos de
champanhe, bebida que também era servida, em baldes, aos cavalos que venciam as
corridas de turfe. Homens afeitos à moda enviavam suas roupas sujas – as de
cama e as de baixo – para serem lavadas na Europa. (...) a relação sexual com
uma virgem era tida como uma cura certeira para doenças venéreas.
Um elemento de competição
estava presente quando se tratava de matar índios. De uma feita, 150
trabalhadores irremediavelmente ineficientes foram capturados, reunidos e
cortados em pedaços, empregando-se uma pavorosa habilidade local que incluía o
“corte do bananeiro”, em que a lâmina do facão era brandida para trás e para a
frente decepando duas cabeças de uma só vez, e o “corte maior” em que um corpo
era fatiado em duas ou mais partes antes que pudesse tocar no chão.
Algumas das histórias
contadas sobre as casas-grandes do Brasil do século passado em seus dias de
respeitável escravidão e licenciosidade romana desafiam a imaginação: um
escravo acusado de algum crime de ínfima gravidade é castrado e queimado vivo;
por ordem de uma senhora enciumada, os dentes de uma bela jovem são arrancados
e seus seios amputados, apenas por garantia; outra moça, que descobrem grávida,
é jogada viva dentro do forno.
Por que toda essa crueldade
sem sentido? O que é que faz com que homens e mulheres, provavelmente de
extrema respeitabilidade em sua vida cotidiana, torturem pelo mero prazer da
tortura? Montaigne acreditava que a crueldade é a vingança do homem fraco por
sua fraqueza; uma espécie de parodia doentia da bravura. “A matança após uma
vitória é geralmente perpetrada pela ralé e pela criadagem que carrega a
bagagem.”
Francisco Amorim Brito,
encarregado geral da empresa seringalista Arruda, Junqueira & Cia., de
Juína-Mirim, perto de Aripuanã, no rio Juruema, gostava de fazer troça dos
índios, e quando um deles era capturado, levava-o para o que era conhecido como
“a visita ao dentista”: o índio recebia ordens para “abrir a boca”, e ato
contínuo, Brito sacava uma pistola e atirava dento.
Num outro episódio, Brito
arrastou a mulher e pendurou com uma corda em uma árvore, de cabeça para baixo,
as pernas bem abertas e com um só golpe do facão abriu o corpo dela ao meio.